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peixe-boi proteção da vida marinha áreas protegidas
2010-02-04 | Julianaf

A confecção de um novo mapa de distribuição do peixe-boi marinho no Nordeste brasileiro pode ser mais uma aliada na preservação da espécie, hoje considerada criticamente ameaçada de extinção. A estratégia ousada de três pesquisadores, coordenados pela Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), foi colocada em prática com o auxílio de um monomotor modelo Cessna 172 A, que sobrevoou a costa litorânea de Pernambuco, de Alagoas e da Paraíba. As informações coletadas ao longo de quatro dias, na semana passada, vão ajudar os cientistas a detectar previamente locais onde não há mais incidência de animais.

Áreas de descontinuidade ao longo da costa litorânea – locais onde não há mais a presença de peixes-bois – são vistas como preocupantes pelos ambientalistas. O problema pode levar à depreciação genética da espécie e afetar diretamente as ações de conservação. Porém, durante o censo aéreo, os especialistas também observaram a situação inversa. “Alguns animais passaram a habitar áreas antes vistas como de descontinuidade.

Num primeiro momento, essa informação pode parecer boa, porém, na verdade, pode significar a busca por zonas de conforto devido às pressões exercidas por práticas como a carcinocultura, movimento de barcos e o turismo exacerbado”, explica o coordenador do projeto, João Carlos Borges.

Munidos com câmeras fotográficas, os pesquisadores registraram com atenção toda a movimentação dos animais no mar. Eles foram estrategicamente posicionados, sendo um em cada lado da aeronave e um terceiro atuando como anotador, incumbido de colher atentamente cada informação. “Uma câmera de vídeo também foi acoplada na parte de baixo do monomotor. O equipamento monitorou a área definida como ponto cego, impossível de ser avistada (pelos pesquisadores)”, explica Borges.

Segundo ele, a técnica foi testada pela primeira vez no início de janeiro. O primeiro trecho percorrido foi o litoral de Alagoas, que apresenta características propícias para a prática, como a transparência da água. “Já em alguns trechos, a qualidade da água não é tão propícia assim. O fator é importante em termos de estimativas populacionais, pois nos permite visualizar os animais de superfície e também os submersos”, destaca o coordenador, lembrando que os dados coletados serão tratados por meio de modelagens estatísticas específicas. De acordo com o último levantamento, os litorais do Norte e do Nordeste possuem um total de 500 peixes-bois.

No passado, mais precisamente no período da colonização, foram detectados peixes-bois do Espírito Santo ao Amapá, de uma maneira contínua. “Anos mais tarde, por conta dos transtornos antrópicos (causados pelo homem), a situação mudou. No Espírito Santo e na Bahia, não há registros da presença desses animais. Em Sergipe, existe apenas um, solto em 1994. Mas, na verdade, ele foi reintroduzido em Alagoas e acabou migrando para o estado vizinho”, conta.

Estimativa

O peixes-bois são animais costeiros que vivem bem próximos dos arrecifes e bancos de algas — áreas de grande beleza e riqueza ambiental. Segundo a presidente da FMA, Denise Castro, a estimativa populacional de 500 indivíduos é resultado de um trabalho que envolveu a fundação e o governo federal.

A bordo de uma unidade móvel, pesquisadores percorreram as áreas de incidência em busca de pessoas que tinham conhecimento sobre as espécies. “A metodologia utilizada se baseava em entrevistas. O censo é uma atividade desejada há muito tempo e só agora conseguimos viabilizar o mapeamento aéreo”, explica.

Além da FMA, patrocinam a iniciativa a Petrobras, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entre outras entidades. O resultado do censo aéreo também será de grande importância para a conclusão da tese de doutorado de Danise Alves, aluna da universidade e uma das executoras do projeto. “O objetivo é estudar a distribuição dos peixes-bois e realizar a estimativa populacional, que deve ser concluída até o fim do ano. Além disso, pretendo fazer um diagnóstico ambiental e enfatizar os pontos positivos e os negativos observados naqueles ecossistemas”, finaliza a pesquisadora.

(Correio Braziliense / ANDA, 03/02/2010)


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