Sob acusações de selecionar apenas estudos favoráveis a sua posição e ainda sofrendo com o erro sobre o degelo do Himalaia, o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima se defende e diz que não abandonará o cargo
Tudo começou com o relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) que apontava que muito provavelmente até 2035 todos os glaciares do Himalaia teriam desaparecido. Porém, recentemente essa informação foi contestada por se basear em um estudo, sem grandes comprovações cientificas, realizado pelo grupo ambientalista WWF. No fim, ficou provado que os glaciares não sumiriam e o IPCC teve que divulgar uma declaração reconhecendo o erro, o que arranhou a credibilidade da instituição.
Desde então, tudo o que o painel afirma ou já afirmou está sendo minuciosamente analisado por céticos, jornalistas e grupos de cientistas. Começaram a surgir alegações de que o IPCC é tendencioso nas escolhas que faz sobre que trabalhos serão fonte para os seus relatórios e até a vida pessoal do seu presidente, o indiano Rajendra Pachauri, foi questionada.
Em entrevista para a BBC, Pachauri rejeitou as acusações e afirmou que não abandonará o cargo. “Vocês continuarão a me ver como o rosto e a voz da ciência das mudanças climáticas até o fim do meu mandato”, afirmou.
Sobre o uso de materiais e estudos de fontes não consolidadas no meio cientifico, Pachauri alegou que em algumas partes do mundo existem apenas as informações dessas fontes e que mesmo assim todas são revisadas. “Nossos procedimentos são bem claros com relação a esse material. Quando um dos nossos autores tem que usá-lo, ele deve checar duas vezes cada informação. O caso do Himalaia aconteceu porque os autores não seguiram corretamente nossos procedimentos”, declarou Pachauri.
Para o The Guardian, um dos principais jornais britânicos e o que mais vem dando destaque para a crise do IPCC, Pachauri criticou os ataques contra ele. “Não posso ser pessoalmente responsável por cada palavra em um relatório de mais de três mil páginas (...) Eu não faço muitas coisas populares, por isso não sou querido por certos setores da sociedade”, disse.
Até a forma com a qual se veste virou um problema para o presidente do IPCC. Tablóides ingleses sugeriram que ele apenas usa ternos de mais de mil dólares. “Isto é ridículo e um monte de besteiras. Meu salário é de US$ 4 mil e ganho apenas uma ajuda nas viagens. Meu alfaiate me cobra US$ 100 por terno, quando muito”, declarou.
O IPCC começou a trabalhar em seu novo relatório e Pachauri espera que essa crise não afete a credibilidade da instituição e muito menos da ciência que estuda as mudanças climáticas.
“O IPCC é uma sociedade informativa que vem respondendo profissionalmente há anos(...)Todos pensavam que nós éramos perfeitos, mas também cometemos erros. O importante é olhar para o grande cenário e não se cegar por causa de um equivoco. O quadro geral é claro, convincente e extremamente importante: como podemos não perceber o que as mudanças climáticas farão ao nosso planeta? Aliás, o que já vêm fazendo ao nosso planeta?”, concluiu Pachauri.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 03/02/2010)