Foi publicada no Diário Oficial do Estado, nesta quarta-feira, a Resolução Invest nº 492, beneficiando a empresa Sucos Mais, por 12 anos, na forma de aditivo ao Termo de Acordo firmado com a Secretaria de Fazenda, com  benefícios fiscais na compra de equipamentos e matéria prima para a sua produção.

A medida foi assinada por Luiz Carlos Menegatti, coordenador do Comitê de Avaliação do Invest-ES, e segundo os agricultores ignora a problemática ambiental e social vivida há mais de oito anos na região.

A Sucos Mais é acusada de contaminar o Córrego Rio das Pedras, em Linhares, a ponto de gerar mortes de cavalos e gados. Além disso, a água também não serve mais para a irrigação, gerando prejuízos ao agricultores e impedindo até o lazer da comunidade.

A denúncia dos agricultores diz que a Sucos Mais despeja há cerca de 8 anos efluentes indústriais em grande volume  e sem o devido tratamento no Córrego Rio das Pedras. O rio, denunciam os agricultores, já não possui capacidade de diluir os efluentes, que mantêm a água contaminada com metais pesados.

Ao invés de ser investigada, a empresa agora recebe benefícios do governo do Estado, reclamam os produtores rurais da região.

A empresa nega as acusações e afirma possuir as licenças ambientais do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).Aalém de manter seu despejo de efluentes, ela já iniciou as obras de ampliação, com aval do Iema, para também despejar efluentes no Córrego do Arroz.

Neste contexto, um conflito iniciado há anos torna-se cada vez mais acirrado. Segundo os agricultores, o diálogo com a empresa está cada vez mais difícil e, após denúncias e manifestações populares cobrando o fim do despejo de efluentes no córrego, um agricultor chegou a ser coagido em sua própria casa. Valdo Zanete, que mora às margens do Córrego Rio das Pedras, no bairro Santa Cruz, em Linhares, teve sua casa “visitada” por policiais militares. Segundo ele, os policiais afirmaram que representantes da indústria Sucos Mais o acusaram de querer prejudicar a empresa e o aconselharam a não participar mais de manifestações, sob a pena de ser preso. Valdo também foi intimado a depor por não concordar com a poluição que destruiu sua lavoura de café após irrigação feitas com as águas do Córrego Rio das Pedras.

Diante da poluição e da coação sofrida pelos agricultores, eles questionam o benefício fiscal dado à indústria, mesmo após a divulgação das denúncias sobre os prejuízos ambientais e sociais gerados pela indústria na região.

Histórico
A contaminação do Córrego Rio das Pedras veio à tona a partir da denúncia de Valdo Zanete à Ordem dos Advogado do Brasil (OAB), em Linhares, sobre o caso. Segundo a denúncia feita pelo agricultor, dois advogados resonsáveis pelo caso sumiram com a documentação contra a empresa, inclusive com a amostra da água que comprovava a presença de materiais pesados.

A partir disso, a OAB tomou conhecimento do caso e entrou com uma denúncia no MPES, em Aracruz. A OAB em Linhares, apesar de inicialmente não divulgar o nome da empresa, afirmou que protocolara pedido no MPES cobrando uma reunião entre o órgão, empresa, Iema e OAB, para esclarecer os fatos. A reunião ainda não tem data marcada. Entretanto, nada sobre a reunião foi divulgado até o momento.

Ao todo, a empresa produz em Linhares 15 sabores de Minute Maid Mais. Desde agosto de 2005, esses produtos se uniram a outras 17 marcas de refrigerantes, águas, chás, energéticos, tônicas e demais bebidas, não-alcoólicas, que compõem o portfólio da Coca-Cola Brasil.

Com sua ampliação, parte dos efluentes industriais dessa produção será despejada também  no Córrego do Arroz, diretamente ligado a oito lagoas da região, entre elas as lagoas Brás, Durão, Pequena, Japonês e Piabanha.

(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 03/02/2010)