A Licença Prévia da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Pará), concedida na última segunda-feira (01/02) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deixou ativistas e indígenas preocupados e indignados. Nesta quarta-feira (03/02), o presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Bispo de Xingu, Dom Erwin Kräutler, se reuniu em Brasília, com o presidente do Ibama, Roberto Messias, para demonstrar a indignação e a insatisfação com a decisão do órgão.
De acordo com Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, a reunião do Conselho com o Ibama já estava agendada antes do anúncio de ontem e era justamente para discutir sobre o assunto. Segundo ele, o Ibama havia comprometido-se a não autorizar a obra antes do diálogo. "Embora o Ibama tivesse se comprometido a conversar antes, ontem ele [o Instituto] anunciou o leilão para a obra", afirma.
Para Liebgott, a atitude do Ibama mostra que as autoridades não estão interessadas em debater os pontos negativos da obra. "Houve, mais uma vez, o descumprimento de diálogo, do estabelecimento do debate que apresentasse a oposição das obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", comenta.
Na opinião dele, independente do diálogo, o Governo Federal está empenhado em construir a Usina e, por conta disso, a obra será realizada sem levar em consideração as pessoas afetadas. "Há uma encenação do Governo Federal para convencer as pessoas de que há diálogo, mas o compromisso é com os empreendedores que vão fazer as obras", desabafa.
Para o vice-presidente do Cimi, o que está em primeiro lugar na obra é interesse econômico. Enquanto o Governo destaca a dimensão e a capacidade da Usina - segunda maior do país, com capacidade de geração de 11.233 MW -, ativistas e povos indígenas revelam as consequências da obra.
De acordo com Liebgott, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte causará inúmeros impactos ambientais, sociais e até mesmo culturais. Isso porque, além de afetar a biodiversidade local, ainda comprometerá áreas indígenas e de comunidades que vivem nas proximidades da obra. Para ele, as relações que as pessoas têm entre si e com o ambiente também serão afetadas.
Mobilizações
A decisão do Ibama em conceder a licença para a Usina de Belo Monte não foi bem recebida por muitos ambientalistas e indígenas da região. Para demonstrar a insatisfação, várias manifestações contra a obra estão previstas para acontecer nos próximos dias.
Além da reunião de Dom Erwin Kräutler com o presidente do Ibama marcada para amanhã, o Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre está organizando três manifestações simultâneas. As mobilizações devem acontecer na próxima quinta-feira (04/02), em frente às sedes do Ibama de Santarém, Altamira e Belém.
(Por Karol Assunção, Adital, 03/02/2010)