O bispo da prelazia do Xingu dom Erwin Krautler esteve em São Paulo nesta última sexta-feira (29/01), para expor os problemas e contradições relacionados à usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). A usina é o maior projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.
Às vésperas da aprovação da Licença Prévia da usina pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, dom Erwin fez um apelo: "todos queremos que o governo Lula não entre para a história como o governo que exterminou as etnias do Xingu".
O bispo explicou que não é contra todas as hidrelétricas, mas que essa especificamente, da forma como vem sendo feita, coloca em risco a população de Altamira-PA e as populações indígenas que vivem no Parque Indígena do Xingu. "Altamira tem hoje 100 mil habitantes. Um terço da cidade vai para o fundo do lago da usina. O que vai ser desse povo? Dizem que eles serão reassentados, mas onde? Ninguém sabe!".
Segundo dom Erwin, a usina está sendo proposta como única alternativa para salvar a segurança energética brasileira, mas não é verdade que não existam alternativas. "O governo é refém das megaempresas interessadas no projeto, e não se da ao luxo de procurar alternativas. Elas estão ávidas por esse projeto, não querem alternativas".
Impactos
Dom Erwin citou estudos elaborados por especialistas no setor elétrico, que mostram que a usina vai ter problemas sociais, econômicos e ambientais. "A usina só vai funcionar três ou quatro meses por ano com potência máxima. A gente faz uma usina de bilhões para ficar parada metade do ano?", questiona.
Segundo o bispo, o projeto só poderá atingir sua potência máxima se forem construídas outras três barragens no Xingu. O reservatório dessas represas alagaria terras indígenas já demarcadas e áreas de conservação ambiental. Questionado sobre o decreto do governo que diz que só será feita uma barragem, o bispo não se mostrou convencido. "As usinas já estão previstas, não vai ser o decreto que vai impedir. Decreto pode ser revogado".
Entre os demais impactos, dom Erwin ressaltou que a população atingida e o fluxo de migração estão subestimados, que a população que ficará na região não terá abastecimento de água e que o povo que vive da pesca perderá seu meio de subsistência.
Reunião
Ao término da palestra, dom Erwin revelou que foi convidado para uma audiência em Brasília com o presidente do Ibama Roberto Messias Franco, nesta terça-feira (2). O assunto será a hidrelétrica de Belo Monte. No ano passado, o bispo esteve reunido com o presidente Lula, que teria dito que não ia "enfiar Belo Monte goela abaixo".
Ontem (1), o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc e Messias Franco anunciaram o parecer do Ibama para a usina. Segundo o ministro, esta é a licença com o maior número de exigências da história, e a empresa que for levar adiante o empreendimento deverá arcar com cerca de R$ 1,5 bilhão em projetos de mitigação.
(Por Bruno Calixto, Amazonia.org.br, 03/02/2010)