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impactos mudança climática ipcc derretimento das geleiras
2010-02-03 | Julianaf

“É um fato que o aquecimento global está ocorrendo. Se o gelo do Mar Ártico está derretendo, como podem não estar derretendo as geleiras do Himalaia?”, perguntou indignado o especialista em geleiras Syed Iqbal Hasnain. O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), na semana passada, se retratou por um informe de 2007, que afirmava que os glaciais do Himalaia desapareceriam até 2035, indicando que sobreviveriam até essa data.

Em meio à agitação que causou esta recuada, os céticos diante do aquecimento global rapidamente aproveitaram o erro, destacando uma série de notícias sobre a questão que eles consideram que apoiam sua posição. Mas Hasnain, que está no centro da controvérsia sobre o derretimento do Himalaia, disse que é “ridículo” presumir que as geleiras não estão derretendo.

Na entrevista publicada em 1999 na revista britânica New Scientist, o cientista disse que até 2035 desapareceriam as geleiras do Himalaia devido ao aquecimento global. O IPCC tomou essa data dessa matéria e oito anos depois, em 2007, a incluiu em seu Quarto Informe de Avaliação, do qual agora se retratou. O IPCC, que avalia informação científica sobre a mudança climática, ganhou em 2007 o Nobel da Paz junto com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore.

O artigo original da New Scientist foi escrito a partir de uma entrevista telefônica que o jornalista Fred Pearce fez com Hasnain. O também britânico The Sunday Times usou estes dados em um artigo que publicou na edição do dia 17 deste mês. Hasnain negou ter dado a Pearce o ano de 2035 como prazo, e afirmou que o jornalista fez declarações no mesmo artigo do The Sunday Times, onde disse que um informe de 1999 preparado pelo cientista “não mencionava 2035 como data para derretimento do Himalaia”.

A data citada na nota da New Scientist era “uma presunção jornalística interpolada pelo entrevistador sobre a qual não tive nenhum controle”, afirmou Hasnain, alto membro do Instituto de Energia e Recursos (Teri). Hasnain ofereceu à IPS seu informe “Síntese de estudos recentes sobre as geleiras do Himalaia”, que resume pesquisas feitas na última década e que demonstram que seus gelos estão retrocedendo.

As geleiras do Himalaia oriental e central são especialmente sensíveis ao atual aquecimento atmosférico devido ao seu sistema estival de acúmulo de neves, diz o informe do geólogo, citando um estudo de 1984, feito por Yasunari Ageta e K. Higuchi. Um aumento na temperatura do ar no verão não só potencializa o derretimento do gelo como também reduz significativamente o acúmulo, alterando as nevadas em concordância com as chuvas. Em contraste, as geleiras que se acumulam no inverno recebem seu principal acúmulo em temperaturas menores, e, portanto, são menos sensíveis aos aumentos da temperatura do ar, diz o informe de Hasnain. Localizado entre o subcontinente indiano e a meseta do Tibete, o Himalaia é a cadeia montanhosa mais alta do mundo. Inclui o Monte Evereste e abriga mais de 15 mil geleiras.

Um estudo de 2009 sobre o derretimento de glaciais, realizado por uma equipe de cientistas liderados por A. Shukla, usando um sensor de dados via satélite, descobriu que a geleira de Samundratapu, em Lahul-Spiti, no norte da Índia, diminuiu 13,7 quilômetros nos últimos 41 anos, enquanto os cumes recuaram 588 metros. Os cientistas concluíram que todas as mudanças pareciam estar vinculadas ao aquecimento global. A questão da mudança climática está na primeira fila de vigorosas discussões em todo o mundo e no centro dos esforços da comunidade internacional para abordar seu impacto, o que inclui o rápido derretimento de geleiras que, se sabe, disparou uma onda de desastres naturais.

No final de 2009, cientistas especializados em clima da britânica Universidade de Anglia Oriental enviaram uma série de e-mails afirmando que alguns dados estatísticos do informe do IPCC foram ajustados para demonstrar a mudança climática. Isto causou um alvoroço público. E os cientistas que estavam no centro da controvérsia disseram que esses e-mails foram alvo de um ataque informático e que o conteúdo fora retirado de seu contexto. Hasnain afirmou que há interesses criados que tentam denegrir cientistas que “diligentemente fazem o melhor que podem para investigar o tema”.

Coletar a ordenar evidências científicas sobre a redução das geleiras no Himalaia é quase impossível por motivos físicos e técnicos. Segundo o Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas, com sede em Katmandu, ainda não há medições sistemáticas que avaliem a massa glacial na região. A China é o único país da região que realiza estudos deste tipo a longo prazo em algumas geleiras. No futuro, os expandirá aos do Himalaia, diz o Centro.

Em novembro, ao acompanhar um grupo de jornalistas internacionais a Khardung La, a mais alta passagem de montanha da Índia, para observar o estado das geleiras, Hasnain mostrou evidência científica do derretimento em Chota Sigri, no Himalaia oriental. O local exibia uma grave redução anual da massa gelada, com a geleira cedendo 40 e 25 metros por ano nos pontos mais altos e mais baixos, respectivamente. “Definitivamente, está diminuindo”, disse Hasnain ao grupo de jornalistas europeus, norte-americanos e sul-asiáticos.

Junto com Veerabhadra Ramanathan, do Instituto Scripps de Oceanografia, dos Estados Unidos, Hasnain também apresentou evidência científica de como a fuligem dos fogões a lenha, que contribuem para o fenômeno da “nuvem atmosférica marrom”, se depositavam nas neves do Himalaia, acelerando o aumento da temperatura ainda mais do que o aquecimento global “normal”. Na Índia, o Ministério do Meio Ambiente e Florestas parece sentir-se reivindicado por sua acusação, feita em meados de 2009, de que o ponto de vista do IPCC fora “alarmista”. O presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, que também é diretor do Teri, disse que o informe do Ministério estava baseado em “ciência vudu”.

A debacle sobre a projetada data de desaparecimento das geleiras do Himalaia pairou sobre as discussões a respeito do mau estado das massas geladas, especialmente as menores. Em Ladakh, norte da Índia, o aposentado engenheiro civil, especialista em desenvolvimento rural, Chewang Norphel, nega as acusações de que os dados científicos são insuficientes para provar o derretimento das geleiras de seu país. “Eu sou os dados científicos. Vejo, por exemplo, o tamanho da geleira de Khardung La desde que era pequeno. Na época era sólida”, disse em novembro aos jornalistas internacionais.

As oscilantes temperaturas já começaram a ter impacto na biodiversidade da região e suas comunidades, segundo o Fundo Mundial para a Conservação da Natureza (WWF). Os gansos da raça Anser indicus e os grous, aves de pescoço negro, não foram vistos nos últimos anos, disse Nisa Khatoon, oficial do projeto do WWF em Leh. As migrações de algumas comunidades no Lago Tsokar, em Leh, que usam os xales mundialmente conhecidos como Pashminas, “se tornam mais frequentes na medida em que estas comunidades migram devido à degradação das pastagens”, acrescentou.

(Por Keya Acharya, IPS / Envolverde, 02/02/2010)


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