Plano para Caracas prevê que "grandes consumidores" reduzam consumo de energia em 20% e isenta "setores de alta sensibilidade social"
Governo não diz quem será afetado tampouco quando o projeto, o terceiro para tentar controlar a crise energética, entrará em vigor.
Com a popularidade em queda e enfrentando dificuldades administrativas em pleno ano eleitoral, o governo Hugo Chávez divulgou anteontem à noite um novo plano de racionamento para Caracas, que deixará de fora setores de "alta sensibilidade social".
A medida, que afeta a capital do país, foi divulgada só por uma nota no site da Agência Bolivariana de Notícias (ABN), apesar de Chávez ter tratado da falta de energia em boa parte do seu programa de TV dominical, "Alô, Presidente".
O novo plano prevê que os "grandes consumidores" de Caracas reduzam o consumo de energia em 20%, deixando de fora "pequenos comércios, o setor residencial e setores de alta sensibilidade social", segundo a ABN. O governo, porém, não especificou quem será afetado nem quando o plano entrará em vigor.
É o terceiro plano de racionamento para Caracas -nos anteriores, Chávez recuou devido à má reação da opinião pública.
Em dezembro, o governo determinara que os shopping centers fechassem às 21h, o que deixaria a cidade praticamente sem cinemas abertos à noite. Ao mesmo tempo, fechariam bares e outros centros de diversão noturna que funcionam nos shoppings. A restrição foi cancelada antes de ser implantada.
Em meados do mês passado, Chávez lançou um duro plano de racionamento, que deixaria praticamente todo o país, incluindo Caracas, sem luz durante quatro horas a cada dois dias, num sistema de rodízio por partes da cidade. Dessa vez, o novo recuo na capital (o programa foi mantido no resto do país) veio acompanhado da demissão do ministro da Energia Elétrica, Ángel Rodríguez.
Junto com o racionamento, Chávez vem tentando aumentar a produção elétrica do país.
Amanhã, conforme a Folha antecipou, uma comitiva venezuelana chega a Brasília para se reunir com técnicos brasileiros. Na agenda, a busca de apoio técnico para a usina de Guri, que abastece 70% do país, mas sofre com a falta de chuvas. O Brasil também deve ajudar a reformar as sucateadas usinas termelétricas do país.
Anteontem, Chávez anunciou um fundo emergencial de US$ 1 bilhão, para ser usado na produção de energia elétrica a curto prazo, por meio de usinas termelétricas.
A crise energética, o aumento da violência, o racionamento de água em Caracas e a pressão inflacionária vêm minando a popularidade de Chávez, que, segundo o instituto Datanálisis, está em 46%. Apesar de relativamente alta, é a primeira vez que se situa abaixo dos 50% em cinco anos.
Na capital venezuelana, a deterioração de sua popularidade remonta a 2007, quando Chávez foi derrotado no referendo sobre a reforma constitucional. Em 2008, a oposição venceu em 4 dos 5 municípios e ainda arrebatou o governo distrital de Caracas.
Em setembro, a Venezuela volta às urnas para eleger a nova Assembleia, hoje controlada pelo chavismo.
(Por Fabiano Maisonnave, Folha de S. Paulo, 02/02/2010)