Uma revolução subterrânea está se espalhando pela Universidade Harvard. Ela ocorre sob o solo e envolve fungos, bactérias, micróbios e raízes, que estão sendo alimentados com composto e chá de composto, em vez de receberem pesticidas e nitrogênio sintético.
Os resultados deixaram os administradores da universidade tão estarrecidos que aquilo que começou como um pequeno projeto piloto no Harvard Yard (um extenso gramado no centro da universidade) acabou levando à adoção de práticas orgânicas em dez hectares do campus.
Wayne Carbone, gerente de paisagismo de Harvard, disse que "o objetivo é, nos próximos dois anos, levar as práticas inteiramente orgânicas a todos os 32 hectares" que a universidade mantém.
A reitora de Harvard, Drew Gilpin Faust, que quer reduzir em 30% até 2016 os gases-estufa que a universidade emite, adotou o programa quando viu um display montado diante de seu gabinete pelo Projeto de Restauração dos Solos de Harvard Yard. "Os exemplos de solo expostos mostravam como crescia a grama quando tratada com fertilizantes químicos e como ficava quando recebia tratamento orgânico", disse.
Hoje, a grama do campus que é cultivada com métodos orgânicos está verde graças aos micróbios que alimentam o solo, eliminando o uso de nitrogênio sintético, que é a base da maioria dos fertilizantes químicos. Tampouco são usados herbicidas ou pesticidas. Como a maioria dos campi universitários, Harvard Yard é intensamente usado. "Recebemos entre 6.000 e 8.000 pessoas por dia", disse Carbone.
Mas a atividade microbiana sob seus pés agora aerou o solo. As raízes das árvores estão conseguindo respirar, porque estão absorvendo nutrientes e água.
O projeto começou em meados de 2008. Eric T. Fleisher, diretor de horticultura na Conservadoria de Parques Urbanos Battery Park, em Nova York, estava passando um ano com uma bolsa de estudos Loeb na Escola de Pós-Graduação em Design de Harvard. Ele se uniu a Carbone e sua equipe para ver o que micróbios seriam capazes de fazer no Harvard Yard.
Quando o projeto começou, contou Fleisher, "o solo estava tão compacto que não conseguíamos escavar mais fundo que 7 cm". Mas o projeto não agradou a todos. "Não aprovo", disse o reverendo Peter J. Gomes no jardim de frente de sua casa, onde uma placa perto da cerca-viva de viburno anunciava que ela fazia parte de uma das paisagens orgânicas de Harvard. Gomes acha o lema e a placa "uma grande bobagem".
Pastor da Igreja Memorial da universidade, Gomes disse que plantou a maioria das árvores em volta da igreja "com minhas próprias mãos", mas que sempre deixou o gramado a cargo de Harvard. "Desde que esteja bonito, não me interessa saber mais nada", disse.
(Por Anne Raver, Folha de S. Paulo, 01/02/2010)