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tráfico de drogas terras indígenas
2010-02-01 | Julianaf

Ao pôr do sol, um silêncio assustador paira sobre a reserva indígena Tohono O'odham Nation, que tem uma fronteira de 120 quilômetros com o México.

Poucos moradores saem das suas casas. As estradas estão repletas das caminhonetes dos agentes da Patrulha de Fronteira, que param veículos desconhecidos, examinam estradas vicinais em busca de pegadas e cruzam o deserto para interceptar contrabandistas que transportam maconha nas costas e hordas de migrantes que tentam seguir para o norte.

Devido aos azares da geografia, a única grande reserva indígena na problemática fronteira viu-se no meio deste problema, tornando-se um importante ponto de passagem tanto para drogas quanto para pessoas.

Uma tribo há muito isolada de 28 mil habitantes e a sua cultura estão pagando um preço alto: a terra está fervilhando de forasteiros, os moradores estão com medo de caminhar pelo seu deserto sagrado, e alguns membros, atraídos pelo dinheiro do cartel de drogas em um local onde o desemprego é elevado, estão indo parar na cadeia.

"Indivíduos batem à nossa porta, mostram um pacote de dinheiro e nos pedem para levar uma carga de maconha para o norte", diz Marla Henry, 38, administradora do distrito Chukut Kuk, que cobre grande parte da zona de fronteira. O aumento da segurança na fronteira, de leste a oeste, que teve início na década de 1990 e intensificou-se após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, fizeram com que o tráfico de drogas aumentasse na reserva Tohono O'odham. O aumento do tráfico diz respeito especialmente à maconha, que é difícil de ser transportada através dos pontos fronteiriços de travessia de veículos devido ao seu volume.

Um recorde de 145 quilogramas de maconha foi apreendido na reserva em 2009, superando os 91 quilogramas apreendidos no ano anterior, juntamente com pequenas quantidades de cocaína, heroína e meta-anfetamina.

Centenas de membros da tribo foram julgados em tribunais federais, estaduais e tribais por causa do tráfico de drogas ou o contrabando de seres humanos, após terem recebido até US$ 5.000 (R$ 9.100) para armazenar maconha ou transportar a droga através da reserva. Em algumas famílias, ambos os pais foram para a prisão, deixando os avós por conta dos filhos. "As pessoas temem negar tais pedidos e serem ameaçadas pelo cartel", diz Henry.

Ela diz que se moradores de vilas remotas tentarem ligar para a polícia, a ajuda pode demorar mais de duas horas para chegar. Ao mesmo tempo, alguns moradores estão furiosos com a interferência de centenas de agentes federais, incluindo alguns que passam até uma semana em bases situadas em partes remotas da reserva. O aumento do número de agentes que cruzam as estradas significou a construção de mais barreiras de identificação e um controle maior de uma fronteira que era cruzada livremente pelos membros da tribo, 1.500 dos quais moram no México.

A outrora plácida reserva parece uma "zona militarizada", diz Ned Norris Jr., o chefe da tribo, que afirma também que esta precisa cooperar para o desbaratamento dos cartéis. "O tráfico de drogas é um problema que nós não criamos, mas agora estamos tendo que enfrentar as conseqüências dele".

Muitos moradores dizem temer os traficantes e as hordas de migrantes que espreitam as suas casas, bem como a perspectiva de serem humilhantemente revistados por agentes federais. Muitos idosos dizem que evitam o deserto, até mesmo durante o dia, porque podem esbarrar com uma carga de maconha ou com "mulas" do narcotráfico que escondem-se nas depressões do deserto até a noite.

"Não podemos sair sequer para coletar madeira para o fogão", explica Verna Miguel, 63, que diz ter ficado traumatizada três anos atrás quando um grupo de migrantes obrigou-a a parar em uma estrada, espancou-a e roubou o seu veículo. "Nós sempre colhemos frutas de saguaro e botões de cholla", diz Miguel, que usa tais produtos do deserto para consumo e rituais. "Mas agora não ousamos mais fazer isso".

Até recentemente, a reserva internacional da fronteira era porosa, defendida por três barreiras de arame farpado. Mas nas duas últimas décadas foram instalados postes de metal e barreiras em estilo Normandia para deter os caminhões que costumavam furar o bloqueio e rumar para Phoenix.

Autoridades federais descrevem o aumento das apreensões de drogas na reserva como um sinal do sucesso crescente naquela que há muito era tida como uma parte vulnerável da fronteira. Barreiras e vigilância obrigaram a maioria dos contrabandistas a entrar a pé - em vez de usarem veículos - e a passar horas ou dias vagando pela reserva, o que os torna mais vulneráveis à detecção, afirma o agente Robert Gilbert, chefe do setor de Tucson da Patrulha de Fronteira. Mas as grandes operações policiais, aqui e em outras partes da fronteira, são também uma indicação do comércio contínuo e dos lucros colhidos pelos cartéis.

"Os cartéis utilizam o lucro com a maconha para comprar cocaína na Colômbia e no Peru e os ingredientes para a fabricação de meta-anfetamina e heroína em outras regiões", diz Elizabeth W. Kempshall, a agente especial que chefia o escritório no Arizona da Força Administrativa de Narcóticos (DEA). "Portanto, a maconha é o catalisador do restante do tráfico de drogas".

Segundo as autoridades, os narcotraficantes, sobremaneira aqueles que trabalham para o Cartel Sinaloa, colocam vigias durante dias seguidos nas encostas das montanhas, dotados de dispositivos de visão noturna para monitorarem a movimentação da Patrulha de Fronteira. Os vigias comunicam-se com guias mexicanos ou índios usando telefones celulares ou rádios com códigos variáveis que não podem ser interceptados, afirma o sargento David Cray, da polícia tribal, que gastou grandes quantias com os problemas da fronteira. Durante o dia, os vigias escondem-se em cavernas ou sob camuflagens.

A Patrulha de Fronteira possui os seus próprios vigias e caminhonetes dotadas de câmeras de vídeo infravermelhas que detectam calor a quilômetros de distância. A tribo concordou com a instalação de torres de vigilância eletrônica nos próximos anos que criarão um "muro virtual" nas suas terras.

Muitos agentes passam as noites "buscando sinais", um termo usado por rastreadores, dirigindo lentamente por estradas de terra à procura de pegadas.

Em uma recente noite fria, um agente da Patrulha de Fronteira detectou oito pontos brancos na sua tela movendo-se continuamente para o norte, sem ziguezaguear como fazem vacas ou burros selvagens. Com um feixe de laser ele estabeleceu a coordenada dos oito indivíduos coincidente com um ponto que ficava a oito quilômetros do seu posto na montanha.

Dois agentes em veículos de tração nas quatro rodas passaram por uma trilha em uma fazenda e por mais um quilômetro de deserto para interceptar o grupo. Seis escaparam, mas dois mexicanos foram capturados com sete sacos de pano, cada um deles contendo 23 quilogramas de maconha que seria vendida a pelo menos US$ 1.000 o quilograma.

Para os agentes aquela foi uma boa noite de trabalho. "É para isso que nós vivemos: apreender drogas", diz um agente que chegou ao local pouco após a operação para ajudar a transportar os traficantes e a sua carga.

Muitos membros da tribo vêem a presença federal como um misto de vantagem e problema, na melhor das hipóteses.

Ofélia Rivas, 53, da Vila Meneger's Dam, é uma defensora dos direitos dos indígenas e um dos raros moradores da fronteira que concordou em falar com um repórter. Ela diz que a maioria das famílias que vivem nas vilas de fronteira, incluindo a dela, já teve um parente preso por envolvimento com o narcotráfico, mas frisa que tais indivíduos não deveriam ser responsabilizados já que há falta de empregos legais. Rivas critica os líderes tribais por terem concordado com aquilo que ela chama de uma ocupação federal opressora.

Autoridades policiais federais elogiam a tribo pela sua cooperação, e a Patrulha de Fronteira designou agentes de relações comunitárias para minimizar os atritos.

Even Norris, o líder tribal, diz que já foi parado e questionado. "Francamente, as pessoas estão cansadas disso", diz ele, referindo-se à forte presença externa. Mas ela acrescenta que a tribo não tem capacidade de lidar com o problema de tráfico e contrabando. "Espero que durante a minha vida as coisas voltem a ser como eram", diz Norris. "Antigamente as pessoas podiam sair e caminhar à luz do dia na sua própria terra".

(Por Erik Eckholm, The New York Times / UOL, 31/01/2010)


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