O professor de economia Boaventura Santos e a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva participaram nessa tarde de quinta-feira (28) do debate sobre Novos Paramêtros para o Desenvolvimento. O auditório praticamente lotado ouviu com atenção, apesar do forte calor, os palestrantes concordarem que novos modelos são fundamentais.
Para Boaventura Santos é preciso criar um novo conceito para substituir a palavra desenvolvimento. “A palavra tem história e temos que pensar no conceito de viver bem, de felicidade”. Os próprios índices deveriam medir a “felicidade”. O professor explicou que para os índios é impossível mensurar o desenvolvimento nos termos tradicionais aplicados pelas teorias econômicas. “O conceito indígena de desenvolvimento é de viver bem, em harmonia. E não são utopias, esses conceitos estão hoje na Constituição da Bolívia e do Equador”. Boaventura citou o caso da Finlândia, em que a população tem acesso ao bem viver, mas, paradoxalmente, apresenta os maiores números de suicídio. O professor não apresentou sua teoria para o exemplo.
Outro exemplo, porém, que mostrou o ponto de vista do cátedro da Universidade de Coimbra sobre a necessidade de se mudar os paramêtros foi de uma aluna indígena que chorou na aula da universidade por que outro professor ignorou os conceitos plurais de economia solidária e coletiva. Além desse, Boaventura citou exemplos do Canadá, onde organizações de economia solidária substituiram serviços de atendimento aos idosos, de Porto Alegre mesmo, onde o Orçamento Participativo levou o controle dos recursos para a mão dos cidadãos, entre outros. Ele também falou da importância da mudança de visão da periferia para o centro. “O Fórum nasceu nas periferias. Com um olhar que não está no centro, podemos ver melhor os vários lados da cidade.”
Para a senadora Marina Silva os novos paramêtros de desenvolvimento estão surgindo em experiências embrionárias no Brasil o que é uma dinâmica nova. A ex-ministra do Meio Ambiente não pode deixar de abordar o tema do aquecimento global. “É o que eu chamo de Armagedon Ambiental, alguns indicadores mostram que se houver um aumento de 1,5° C vamos inviabilizar a vida no planeta”. Marina citou o fotógrafo Sebastião Salgado para ilustrar seu conceito de Armagedon. “20% da população fez uma uma fuga para o futuro e 80% estão sendo deixadas para trás.”Além disso, Marina lembrou que a economia de um país depende 50% de sua biodiversidade, plataforma que defende em sua pré canditatura a Presidente do Brasil.
Apesar de saber que seus ideais são difíceis de serem alcançados, a senadora não aceita que os termos idealista e sonhador sejam deturpados. “O conceito foi deturpado. Se você quer xingar alguém chama o de utópico. Eu não sou daqueles que se intimida facilmente” afirmou. Ao ser aplaudida, Marina Silva lembrou o exemplo de Mandella e da sua insistência.
Outro momento de admiração do público presente na sua apresentação foi quando a ex-ministra admitiu a falência tanto do modelo econômico capitalista quanto socialista. “As experiências socialistas não deixaram um legado diferente do modelo perverso capitalista” explicou ela sobre a destruição da biodiversidade em ambos os casos.
(Por Natacha Marins, EcoAgência, 30/01/2010)