Cerca de 3,8 mil turistas foram retirados de Aguas Calientes, perto de Machu Picchu, de onde só era possível sair de helicóptero
Cinco dias após o bloqueio da ferrovia que liga Cuzco a Machu Picchu, no Peru, finalmente terminou ontem, às 17h15min (20h15min pelo horário de Brasília), o resgate dos turistas isolados em Aguas Calientes, perto das ruínas incas. Aliviadas, as famílias dos gaúchos que ficaram ilhados no Peru aguardam agora, com grande expectativa, o retorno dos viajantes.
Uma comemoração está à espera de Luísa Adegas, 18 anos. Na quarta-feira, seu nome foi publicado no listão da UFRGS entre os aprovados para o curso de Publicidade e Propaganda. Foi o que contou o todo orgulhoso pai da jovem, Romeu Adegas Filho.
– Graças a Deus, ela ligou nesta tarde e disse que está tudo bem. Ela só estava muito cansada. A gente nem pôde comemorar a conquista do vestibular. Agora vamos fazer isso juntos.
Luísa e três amigas foram resgatadas ontem de Aguas Calientes e se hospedaram em um albergue, em Cuzco. A jovem tem um voo marcado de Lima para Porto Alegre no dia 3 de fevereiro, mas tenta antecipar a volta.
A estudante de Medicina Karina Trindade Tavares, 23 anos, que chegou ontem a Cuzco, tomou a mesma decisão. Às 8h da manhã (11h pelo horário de Brasília), um helicóptero a levou de Aguas Calientes até Ollantaytambo e, de lá, foi mais uma hora e meia de viagem em um ônibus até Cuzco. Ela afirma que não ficou traumatizada pelo episódio e pretende voltar outra vez à região para conhecer Puno, no Peru, e Copacabana, na Bolívia:
– Foi um contratempo, mas gostei da viagem. Tem lugares que ainda queria visitar, mas, agora, quero voltar para casa.
Ela tem um voo de La Paz para Porto Alegre, com conexão em São Paulo, marcado para 1° de fevereiro. Junto com Karina, devem chegar Pedro Santini Dutra e Luís Vinícius Bastos de Souza, seus colegas e companheiros de viagem pela Bolívia, Chile e Peru. Os dois rapazes chegaram a Cuzco ainda na quinta-feira, a tempo de comemorar longe de Aguas Calientes o aniversário de 22 anos de Luís. Nos últimos dias, a situação na cidade isolada já estava melhor:
– O governo peruano organizou o atendimento aos turistas e, como sobraram só jovens no final, já estávamos fazendo festa – confessou Pedro, 20 anos.
No total, as autoridades calculam que havia 3,8 mil turistas na região de Aguas Calientes, dos quais cerca de 270 brasileiros. Os primeiros dados indicam que há, pelo menos, 10 mortos pelas chuvas, que provocaram deslizamentos de terra e o bloqueio da linha férrea.
Também há más notícias para a economia. O conserto da ferrovia deve demorar dois meses, o que provocará, segundo a Associação de Agências de Turismo de Cuzco, uma queda de 99% no turismo. Já o ministro de Comércio Exterior e Turismo, Martín Pérez, disse que ainda não calculou as perdas no setor pelo fechamento temporário de Machu Picchu.
Avião da FAB trará até 80 brasileiros
Como apoio às vítimas, o Brasil decidiu enviar uma carga com 14 toneladas de alimentos, que chegaria entre ontem e hoje à cidade de Cuzco, em um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB). De acordo com o Itamaraty, o avião levará até 80 brasileiros de Cuzco a Brasília e Rio de Janeiro. A intenção é ajudar principalmente aqueles que perderam seus voos ou estão com pouco dinheiro para regressar ao Brasil.
(Zero Hora, 30/01/2010)