Fenômenos nos oceanos Pacífico e Atlântico empurram a umidade da floresta amazônica para as regiões Sul e Sudeste
Em São Paulo, concreto joga mais calor na atmosfera; janeiro bateu recorde de chuvas na cidade e previsão é que continuem até março
O aguaceiro que cai sobre São Paulo neste mês é resultado de fatores climáticos locais somados a outros mais globais, afirmam os meteorologistas. Todos eles, em última análise, estão empurrando muita umidade para todo Sul e Sudeste do país. O que tem causado mortes, prejuízos materiais e transbordamento de represas.
"A maior contribuição de chuva durante o verão é a umidade e o aquecimento decorrente da própria época em que estamos", afirma o pesquisador Carlos Augusto Morales, chefe da estação meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.
Existem ainda outros fatores climáticos inflando a potência das chuvas principalmente sobre São Paulo, diz o especialista. "Adicionalmente, temos a atuação do El Niño [o nome faz referência ao menino Jesus, porque o fenômeno surge sempre no Pacífico durante o período natalino] e de uma zona de convergência de umidade", afirma Morales.
Enquanto no primeiro caso o aquecimento rápido das águas do oceano altera o padrão de ventos sobre grande parte da América do Sul, no segundo existe uma conexão direta entre floresta amazônica e São Paulo.
"A umidade daquela região está sendo trazida para o Sudeste e o Sul do Brasil", diz Morales. A umidade que vem do Norte é resultado direto do aquecimento das águas do Atlântico. Fenômeno também observado pelos cientistas nesta época do ano. A região metropolitana de São Paulo, não bastasse a umidade acima média que chega até ela, tem mais um agravante, diz Augusto Pereira Filho, também da USP.
Por causa da impermeabilização, afirma o especialista, as chuvas aqui têm ocorrido de forma mais rápida e concentrada. O calor que emana do concreto paulistano joga mais calor na atmosfera. Isso engorda as nuvens, que descarregam água de forma mais violenta. Os radares pilotados por Pereira Filho mostram claramente essa situação, diz ele. "Nuvens com até 18 km de altura."
A quantidade de chuvas registradas por dois institutos diferentes em São Paulo coloca o atual mês de janeiro entre os mais chuvosos de que se tem notícia. O problema é que o país tem séries históricas relativamente curtas, o que deixa essa contextualização prejudicada.
Segundo os dados da USP, o atual janeiro já é o mês mais chuvoso registrado, com 577 mm até ontem. As medições na estação meteorológica no Parque do Estado (zona sul) começaram em 1933.
Para o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que faz medições no Mirante de Santana, o mês atual está na terceira posição da série histórica deles, que começa em 1943. Na zona norte, até ontem, havia chovido 426,8 mm. Os dois primeiros colocados do ranking são os meses de janeiro dos anos de 1947 (481,4 mm) e de 1987 (442,3 mm).
"Não é possível afirmar qual fator é mais importante em relação aos outros", diz Franco Villela, do Inmet. "O inverno de 2009 já teve muitas chuvas. Esse será um período que ainda vai demandar muita análise [para saber o que está ocorrendo]." As chuvas devem continuar até março, diz a previsão.
(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 28/01/2010)