(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
biocombustíveis passivos dos biocombustíveis grilagem de terra
2010-01-29 | Tatianaf

Mais de 400 famílias de pequenos agricultores estão ameaçadas de expulsão das suas terras para dar lugar à monocultura da cana. A área das comunidades dos Baixões, município de Barra – BA, está sendo dividida pela empresa mineira Caossete, intermediária dos herdeiros da fazenda Boqueirão, na venda da terra a um grupo estrangeiro. A empresa alega reconhecer as posses das famílias e vem concedendo escrituras de áreas muito inferiores àquelas tradicionalmente utilizadas por elas. As escrituras destas áreas estão sendo lavradas num cartório de Sete Lagoas – MG e segundo os advogados da Caossete, “só poderão ser registradas depois de cinco anos”.

A região em conflito abriga um grupo de 10 comunidades, que vivem em regime conhecido por “fundo de pasto”, pelo qual os agricultores, há dezenas e até centenas de anos, usam coletivamente a terra, principalmente para pastagens de animais. A área é propícia para o cultivo de diversas lavouras como milho, feijão, mandioca, arroz, abóbora, melancia e abriga uma ampla área de matas preservadas, onde também pastejam as criações de bovinos, caprinos e ovinos. Segundo relatos dos moradores, as comunidades mais antigas remontam ao século XIX e outras mais novas foram formadas a partir do ano de 1935.

O território destas comunidades faz limite com a Serra do Boqueirão e com antigas fazendas. Uma destas fazendas, que leva o nome da serra, é propriedade de coronéis da Barra e foi passada para seus herdeiros ao longo dos anos. A família Pinto já fez várias investidas na tentativa de se apossar da área, com a alegação que esta terra estaria contemplada na escritura da fazenda Boqueirão. Este, porém, é um capítulo bastante duvidoso desta história, pois a suposta escritura não diz exatamente quais outras fazendas fazem limite com a Boqueirão.

“De 1935 para cá, eu não conheço nenhum benefício dos Pinto, conheço benefício dos Malabá”, diz o agricultor Zezito Ramos, da comunidade Baixão do Malabá. As comunidades têm sofrido ameaças desde os anos 1960. Em 1972, quando houve uma tentativa de grilagem, moradores recorreram à Imprensa Nacional em Brasília, como forma de denunciar e pedir apoio às autoridades competentes. O caso teve repercussão nacional, sendo divulgado no jornal Diário Brasiliense.

Grilagem com cara de “boazinha”
Variantes feitos pela fazenda. Foto: CPT Barra.Há um ponto de interrogação sobre a legitimidade dos documentos da fazenda. Em várias ocasiões, reunidos com os posseiros, representantes de diversos órgãos asseguraram que as terras ocupadas pelas comunidades jamais pertenceram à família Pinto e são devolutas. Porém, o INCRA, na década de 1980, encaminhou processo para desapropriação da área, o que só pode ocorrer com áreas comprovadamente de propriedade particular.

Na tentativa mais recente, os herdeiros do Dr. José Pinto – Aécio, Cássio, Eugenio e Paulo – anunciaram a venda da Fazenda Boqueirão a um grupo Sul-coreano de fármacos – a Celltrion. Esta empresa pretende cultivar cana para produção de etanol e açúcar, além de outras oleaginosas próprias para produção do “agrodiesel”. Contudo, a superfície anunciada para a venda corresponde a aproximadamente 70 mil hectares e inclui a área ocupada pelas comunidades, equivalente a 60% deste total.

A nova grilagem é sutil e aparenta a falsa imagem de justiça social e reconhecimento dos direitos. Os advogados da Caossete alegam estar cumprindo com a sua função social da terra, reconhecendo as posses dos moradores. Na verdade, estão concedendo escrituras que não podem ser registradas e têm áreas muito inferiores às que são de fato utilizadas pelas comunidades. Topógrafos e “seguranças” estão medindo áreas, entrando em roças, abrindo variantes, derrubando cercas, ameaçando pessoas, inclusive de morte. A polícia tem se prestado a atuar em apoio, como forma de coagir e desmobilizar o povo. A situação de conflito é clara e preocupante.

Volta ao passado colonial
Trator que está abrindo as variantes. Foto: CPT Barra.Cabe destacar que esta nova roupagem usada na grilagem de terra deriva do incentivo governamental à produção de agrocombustíveis, no caso da Bahia através do programa Bahiabio do Governo do Estado.

Este fato remete a episódios anteriores da história, como a substituição da produção de algodão, café, anil e fumo, nas colônias inglesas das Antilhas, no século XVII, pela cana-de-açúcar. A cana mudou completamente a estrutura produtiva das ilhas, pois, ao contrário das pequenas propriedades predominantes na época, demandava grandes extensões de terra e dependia inexoravelmente da mão-de-obra escrava.

No passado mais recente, um dos casos mais emblemáticos foi o “escândalo da mandioca”, na década de 1970, quando uma das empresas envolvidas, a Camaragibe, grilou áreas das comunidades de “fundos de pasto”, em Riacho Grande, município de Casa Nova – BA, para conseguir recursos do PROALCOOL, programa oficial de incentivo a produção do álcool, no caso, a partir da mandioca. Como se tratava de fraude, a área e as instalações foram tomadas pelo Banco do Brasil como pagamento de parte da dívida do financiamento.

Passados 30 anos, a mesma área tem sido alvo de tentativa de grilagem, através de empresários “laranjas”. A resistência das comunidades – quatro ao todo, com 360 famílias – continua incansável.

Mesmo contra as forças contrárias, o povo dos Baixões novamente se move para barrar mais esta tentativa de usurpação dos seus direitos e de sua dignidade. Com apoio da CPT as comunidades resistem com firmeza. Centenas de pessoas se reúnem com frequência, a fim de traçar estratégias de afirmação e garantia dos seus territórios e de seu modo de vida sustentável.

(CPT Bahia, EcoDebate, 28/01/2010)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -