Nem só o que é emitido por escapamentos polui a atmosfera
Jet-setters têm má reputação por espalhar gases causadores do efeito estufa na atmosfera superior, mas novo estudo constata que tomar um avião não é pior para o ambiente do que tomar um trem.
Quando a maior parte das pessoas pensa em poluição do ar e emissão de carbono, geralmente consideram apenas o que é eliminado por escapamentos de veículos. Mas um novo estudo publicado na Environmental Research Letters compara o impacto ambiental de diferentes meios de transporte, levando em conta diversos fatores – do aço nos trilhos dos trens aos pneus nas engrenagens de pouso de aeronaves.
Quando comparado a um trem, um avião de grande porte emite, durante sua operação, aproximadamente três vezes mais gases do efeito estufa por passageiro por quilômetro viajado. No entanto, se considerada a infraestrutura existente por detrás do trem e do metrô de superfície, constata-se o aumento efetivo das emissões desses gases em um índice de 155%. Um cálculo similar, realizado com jatos, demonstrou aumento de apenas 31%.
Os dois meios de transporte estão basicamente em pé de igualdade. No entanto, na Costa Leste dos Estados Unidos, onde combustível fóssil gera eletricidade para ferrovias, os trens acabam se tornando maiores emissores de gases do efeito estufa, se comparados a aviões.
Os trens também se mostraram piores quando os autores do estudo consideraram poluentes do ar, como o dióxido de enxofre, causador da chuva ácida. A Boston Light Rail, por exemplo, emite mais de sete vezes a quantidade de dióxido de enxofre por passageiro por quilômetro viajado do que uma típica aeronave de grande porte. Esse resultado deve-se ao fato de o atual combustível das aeronaves conter pouco enxofre, enquanto as usinas elétricas são, hoje, as maiores emissoras de dióxido de enxofre.
A moral da história não é que os viajantes ecologicamente conscientes devam evitar ferrovias, optando por aviões. Em vez disso, deveríamos procurar formas de reduzir as emissões em nossa infraestrutura, usando, por exemplo, cimento com baixo teor de dióxido de enxofre, alerta Mikhail Chester, da University of California, Berkeley, principal autor do estudo.
“Já evoluímos bastante no combate aos poluentes emitidos por carros” afirma Chester, “Isso é bom, mas deveríamos começar a olhar além desses escapamentos”.
(Por Brendan Borrell, Scientific American Brasil, 27/01/2010)