Apesar de indefinido o nome do sistema que deve substituir o capitalismo, se sabe que a sociedade civil deve se apropriar desta discussão e aderir aos modelos que estão dando certo, como o da agroecologia em justaposição ao do agronegócio
Queremos acreditar que não há combinação entre os painelistas do Fórum Social Mundial, referente aos seus discursos, o que nos leva a crer que, diariamente, se reúnem centenas de pós-doutores da academia e da vida com uma visão de mundo holística e uma série de sugestões em comum para reverter o rumo que os problemas criados por esta civilização está levando a humanidade. Algo que, em Davos, membros da elite política, econômica e empresarial do mundo, não avançarão até domingo, pois estão apenas discutindo o pós-crise, uma reforma do setor financeiro e um controle maior do setor bancário. Se não, vejamos o foco abordado na tarde desta quarta-feira em Porto Alegre.
É unânime a posição de que as crises econômicas resultam do capitalismo e as mudanças climáticas são intensificadas por ele. O professor e pesquisador do Departamento de Ciências Econômicas da UFRGS, Pós-Doutor em Ciência Econômica, Carlos Guilherme Adalberto Mielitz Netto, afirmou durante painel sobre os desafios do agronegócio, realizado no Sindicato Médico RS (Simers), que a natureza deve deixar de ser tratada como negócio, como um estoque de fatores. Ele não sugere que sejamos socialistas, ambientalistas ou humanistas, mas aposta no anti-produtivismo e no anti-capitalismo. Para esclarecer o seu posicionamento, Mielitz Netto citou dois autores: Gilberto Dupas, com seu "Ideologia do Progresso", o qual sugere as reflexões “Por que?”, “Para quem?”, “De onde?”, e Serge Latouche, com Economia do Decrescimento", que defende a satisfação das necessidades sem crescimento, ou seja, considera sim, o decrescimento sustentável. Para o nosso painelista, nem que o capitalismo se pinte de verde ou consiga se imaterializar – não admitirá mais ilusões sobre este sistema econômico.
Especificamente ao agronegócio, o professor sugere que este passe a ser, cada vez menos, negócio, e mais “agro”, mais “humano”, mais “eco”. E, que atente para as cobranças de mudar o seu modelo nos aspectos ambientais, sociais e ético. À sociedade, ele indica o engajamento no movimento Simplicidade Voluntária e apropriação desta realidade de crises, pois não acredita que o mercado poderá encontrar alguma solução. “A ideologia do desenvolvimento é totalitarismo. Um outro mundo é possível e necessário desde já,” conclamou.
Imposição dos governos
O vereador de Porto Alegre, engenheiro agrônomo Carlos Todeschini, acredita na agroecologia como alternativa ao destrutivo agronegócio. A adesão a este modelo se amplia, em média, 15% no mundo, todo ano, mas no Rio Grande do Sul, por exemplo, o governo não apoia estas iniciativas. Tanto que, ele denunciou o rumo da extinção que a Emater segue, contando atualmente com o mesmo orçamento de 2000 e, não desenvolvendo mais trabalhos na área agroecológica nem realizando mais pesquisas. Todeschini afirmou ainda, que a agricultura familiar registrou muitos avanços no período em que houve incentivos nesta área. Porém, a consequência da falta deste saber, é o aumento do uso de agrotóxicos na pequena propriedade.
O professor da Pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC, Rubens Nodari, citou várias externalidades, conforme definiu, que não são sequer consideradas pelos responsáveis das decisões tomadas em favor do agronegócio, como a liberação de transgênicos, e dos argumentos de que “salvam a balança comercial brasileira”. Indicou estudos brasileiros e internacionais, que revelam que o uso de glifosato causa sérios problemas reprodutivos nos peixes. Sendo assim, é de se supor que prejudique também o consumidor deste tipo de carne. E sim, já há estudo que denuncia este agrotóxico como letal para as células humanas. A partir da nomeada “Revolução Verde”, uma pesquisa registrou a involução do valor nutricional dos alimentos.
“A FAO informa que 80% das calorias que consumimos depende de 15 espécies. Esta é uma simplificação da dieta monumental. Sendo que, temos sete mil espécies de plantas que podemos utilizar, no mundo inteiro,” disse. Além disso, dados apontam que está havendo um declínio de valor na composição nutricional dos alimentos, quando se tem constatado diminuição da quantidade de cálcio, dentre outros metais. O que aponta também, segundo o Professor, um “pioramento” genético e não o insuflado melhoramento.
Este dado interessa a cada cidadão preocupado com sua família, mesmo que não esteja ciente desta temática abordada, nem nas escalas do poder, por completo. “No Brasil, não sabemos a qualidade nutricional dos alimentos. E ainda há a falácia de que os orgânicos não são nutricionalmente melhores. Há, sim muita controvérsia, mas já há estudos consistentes que mostram a superioridade da sua qualidade nutricional,” explicou. Finalmente, Nodari citou um estudo patrocinado pelo Banco Mundial, concluído em 2009, que revela que o modelo usado nos últimos 50 anos não é mais uma opção viável, pois evidencia desconexões entre agricultura e meio ambiente, agricultura e consumidor, etc.
(Por Eliége Fante, EcoAgência de Notícias, 28/01/2010)