O pequeno produtor rural e lider sindical em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso Nilfo Wandscheer, demonstrou, durante a mesa "Saúde Ambiental: Os Desafio do Agrobusiness e o Problema da Sustentabilidade Ambiental", no auditório do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), como se conduz uma luta contra o agronegócio. Nilfo Wandscheer deu um depoimento sobre sua origem e o aprendizado que teve sobre o valor da natureza, da qual o homem é só mais um entre tantos seres que a compõem.
Ele relatou a luta que ainda vigora pela defesa de um ambiente saudável no município que adotou, já que ele é natural do leste catarinense. “Lá, o agronegócio estabeleceu a monocultura como o modelo. Então, a soja avança no Cerrado através do desmatamento, da grilagem de terras e do fogo,” contou. Ele apresentou uma imagem área do município que demonstra o cerco que a monocultura faz a Lucas do Rio Verde. O que não desmente o uso de agrotóxicos e as consequências que provoca na população, através dos aviões que passam dessecante.
Sendo assim, descreveu o início de uma luta que perdura: no dia 02 de março de 2006, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, recebeu uma denúncia de chacareiros do município de que as folhas das hortas apresentavam queimaduras, o que eles atribuíam ao uso de dessecante nas lavouras vizinhas. A Secretaria Municipal de Agricultura foi comunicada, mas por não ter dado retorno, o Sindicato repassou a denúncia à rede de entidades parceiras. Uma semana depois a denúncia foi encaminhada ao Ministério Público. Mais uma semana, e o Núcleo de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) constatou o dano.
Após mais uma reunião entre os atingidos e o poder público municipal, os sojicultores foram convocados para uma reunião. Atendendo a um pedido do Sindicato, foi convocada uma audiência pública, mas os atingidos apenas foram informados desta, uma dia antes. Houve repercussão na imprensa nacional e de outros países como Holanda e Malásia. Nilfo destacou o papel da imprensa na divulgação das denúncias, o que teria fortalecido a causa.
Finalmente, em junho do mesmo ano, obtiveram resultados da mobilização social, dentre eles: a formação de um grupo de trabalho que acompanha o desenrolar dos fatos; a realização de outra audiência; a capacitação dos profissionais da área de saúde do estado para diagnosticar intoxicação por agrotóxico; a tomada de conhecimento pela sociedade de que não havia laboratórios nem fiscalização para prevenir acidentes químicos com agrotóxicos; o início de um projeto de monitoramento da água, ar, solo e saúde humana.
“O segredo é não comprar briga sozinho. Pois, não é uma luta só nossa, que ficamos com os resíduos; os alimentos são exportados e foi importante estabelecer um diálogo com os europeus para que se preocupassem com a qualidade do seu consumo e exigissem critérios e uma certificação,” afirmou. Ele está certo de que precisa haver uma mobilização total e uma discussão sobre este modelo agrícola.
(Por Eliége Fante, EcoAgência de Notícias, 28/01/2010)