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protesto socioambiental direitos animais circos
2010-01-28 | Julianaf

Um grupo de estudantes, profissionais, membros do NEAFA – Núcleo Educação Ambiental Francisco de Assis, Grupo “Salvando Animais” e o VEGETAL – Núcleo de Vegetarianismo Alagoano, realizou recentemente uma manifestação pacífica contra a presença de animais no Circo Estoril, que vem se apresentando em Maceió (AL) desde a sexta (15/01).

Durante o protesto, que tinha o objetivo de mobilizar e conscientizar a população sobre as condições em que vivem os animais retirados da natureza e colocados em ambientes como os do circo, os seguranças do Estoril e alguns funcionários intimidaram os manifestantes e tentaram a todo o custo tirar o grupo do sério.

Hélvio, do Núcleo de Vegetarianismo Alagoano, disse que estava distribuindo panfletos quando foi cercado por três homens, um deles segurança do Estoril. “Eu não agredi nem provoquei ninguém. Liguei para a polícia, mas eles não vieram. Liguei mais duas vezes, e nada. O segurança ficou irritado por que eu tinha tirado fotos, e tentou me intimidar na frente de todos. Mas era muita gente e ele se acalmou. Quem esteve no domingo, 17 (quando foi realizado o primeiro protesto) sabe que só tivemos segurança justamente pela presença dos policiais no momento mais crítico”, explica.

Para ele, “enquanto as reivindicações dos defensores dos direitos animais ficarem somente entre os próprios defensores dos direitos animais, sem um envolvimento direto dos poderes competentes, este tipo de situação continuará a acontecer”.

Quando anoiteceu, o grupo sentiu que começaram as ações realmente pesadas da noite por parte do pessoal do circo. “O grupo de marginais que tinha me cercado começou a circular os manifestantes, arrancando panfletos e encarando o pessoal. Quem estava lá viu que não se tratava de pessoal do circo, de pessoal ‘de segurança’. Eram marginais (no pior sentido da palavra). Some-se isso com a péssima visibilidade que tínhamos de quem vinha no sentido Bompreço-Extra. Não havia a mínima segurança!”, explicou Hélvio.

Evelynne, do Neafa, também presente na manifestação, conta que a ONG acompanhou o IBAMA numa visita ao circo Estoril, mas o veterinário não encontrou irregularidades. “O profissional que é contratado para agir em prol do meio ambiente e respeitar a fauna de acordo com o que se prevê dentro da lei, dentre outras atribuições, vistoriou e alegou não ter encontrado nenhum problema com a documentação exigida aos circos e nem com vacinação dos animais (tudo estava em dia) e ainda relatou que os animais estavam em boas condições físicas! E assim, o circo poderia exercer suas atividades normalmente”.

Ela lembra o que diz a Lei 9605, dos crimes ambientais, que prega em seu artigo 32 que praticar ato de abuso ou maus tratos aos animais domésticos, domesticados e silvestres é considerado crime e ainda há multa. “Para o veterinário, na ocasião, o abuso mencionado pela lei é vago, não é bem definido e assim não pode alegar que ocorre. Lamenta-se que um profissional que estudou etologia animal desconsidere que privar animais de seu comportamento natural não seja considerado um abuso!” indigna-se.

“O NEAFA lamenta o fato de um veterinário de um órgão como o IBAMA poderia ser um importante aliado na defesa dos animais, amigo dos animais! Fica a sociedade civil com a indignação”, alerta Evelynne.

Sobre a manifestação, ela diz que por mais pacífico que estivesse sendo a intenção dos manifestantes, a pouca capacidade de entendimento dos funcionários do circo os impedia de observar o ato com naturalidade. “Eles agiram com profundo comportamento agressivo verbal usando vocabulários de baixo nível aos gritos no meio da rua, e quando procurados pela imprensa (no domingo) demonstravam o mesmo comportamento”, conta.

“Fossem estes profissionais mais informados, mais atualizados, perceberiam que o brilho e magia do circo estaria mais evidente se focado nos artistas, dariam uma bela lição de respeito à vida para a sociedade. Atrairiam mais adeptos e mais aplausos! Um fantástico espetáculo é feito por pessoas, por palhaços que arrancam sorrisos verdadeiros de crianças e adultos através da capacidade humana em agradar ao outro. Afinal, viver acorrentado não é engraçado!”, conclui.

Apesar disso, o grupo acredita que o ato incomodou e muito. Não houve presença de policiais nem da imprensa televisiva, mas mesmo assim, durante os dois protestos muita gente desistiu de ir ao circo e acabou por apoiar a causa. Alguns motoristas buzinavam em apoio e teve gente que pediu cartazes para integrar a manifestação. Eles entregaram panfletos, usaram apitos e cartazes para chamar a atenção das pessoas que passavam na avenida, inclusive quem estava no ponto de ônibus e dentro dos coletivos, das 16h às 18h30.

Numa das frases dos panfletos, o pedido do grupo que se estende não só ao circo, mas a toda a convivência na Terra: “Queremos paz em casa, na família, no trabalho e na sociedade, de uma maneira geral. Estamos fartos da violência que nos cerca. Então, como podemos, em nosso momento de lazer, financiar e aplaudir um espetáculo de violência e sofrimento? O que estamos ensinando para as crianças?”

Maceió (AL)

Em Maceió foi aprovado por unanimidade, em novembro de 2009, um projeto de lei que proíbe a presença de animais em circos, mas o mesmo foi vetado pelo Prefeito, Cícero Almeida. Alguns Estados já proíbem a exibição de animais em circos, a exemplo do Espírito Santo – com lei aprovada nesta quinta, 21 de janeiro; Paraíba; Pernambuco; Rio de Janeiro; São Paulo; Rio Grande do Sul; Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Há propostas em tramitação no Ceará e em Santa Catarina.

Por que protestar (do site TribunaAnimal.com)?

Os animais de circo vivem permanentemente presos a correntes ou em pequenas jaulas que impedem seus movimentos. Na Natureza, estes animais caminham grandes distâncias por dia, e se exercitam para se manter física e mentalmente saudáveis. Frequentemente, eles são mal-alimentados, podendo ficar até vários dias sem receber comida. Muitas vezes, sua alimentação é cortada como punição. Alguns são alimentados com restos de comida já em estado de putrefação ou até com cães e gatos vivos, capturados nas ruas.

A higiene e assistência veterinária que recebem, quando recebem, costumam ser precárias. Suas jaulas não são limpas e eles passam a maior parte da vida pisando, comendo e dormindo sobre suas fezes e urinas, desenvolvendo infecções e doenças. São continuamente transportados de um lugar para outro, com pouco descanso e intenso estresse, sempre confinados em suas pequenas jaulas.

Passam a vida toda em isolamento, longe de seus bandos e de seus ambientes naturais. Os elefantes, como exemplo, são animais extremamente inteligentes, sociáveis e sensíveis. Eles reconhecem um parente mesmo depois de anos de separação, ficam de luto pela perda de um companheiro e são muito dóceis, suportando todo tipo de agressão sem revidar.

Para realizar os números de dança, saltos e piruetas, são submetidos a um treinamento cruel: apanham com bastões de ferro, chutes e socos, são chicoteados, levam choques elétricos, são postos a pisar sobre chapas quentes, machucados com objetos pontiagudos. Os grandes felinos têm sua testa queimada pelo menos uma vez na vida, para não esquecerem o que é a dor. Suas presas e garras são arrancadas, muitas vezes sem qualquer anestesia, para que não mordam ou arranhem seus domadores enquanto apanham durante seu treinamento.

Às vezes até suas línguas são cortadas. Desta forma, ficam com o corpo coberto de cicatrizes e feridas, que geralmente infeccionam devido à falta de cuidados veterinários e à falta de higiene, que os levam a uma morte lenta e dolorida. São obrigados a realizar rotinas incômodas, muitas vezes dolorosas e totalmente contra sua natureza.

Mesmo com todas essas agressões, ainda têm um forte espírito que os mantém vivos. Devido a todo o estresse e maus-tratos, a maioria acaba se tornando neurótica, desenvolvendo comportamentos repetitivos ou estereotipados. O balançar da cabeça do elefante é um exemplo de comportamento neurótico. Muito já se ouviu falar sobre animais de circo que agrediram seus tratadores ou o público, às vezes resultando em morte. Na maioria das vezes, isto se deve ao sofrimento de anos reprimindo seus instintos de autodefesa. Essa frustração pode encontrar uma saída mediante um ataque a quem estiver a seu alcance.

Mesmo tendo nascido em cativeiro, como tentam justificar alguns donos de circo, os animais ainda mantêm seu espírito. Ser nascido em cativeiro não os impede de desenvolver seus instintos e inteligência naturais. De qualquer forma, eles recebem os mesmos maus-tratos daqueles que são capturados na Natureza. Nós seremos co-responsáveis pelos maus-tratos que os animais de circo recebem enquanto continuarmos de braços cruzados. Vamos nos unir, sem usar de agressão ou violência, do contrário estaremos agindo da mesma forma que eles.

(Vegetal / ANDA, 27/01/2010)


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