Vale adquiriu ações da Bunge por US$ 3,8 bilhões e pretende incorporar papéis de outros dois acionistas: Mosaic e Yara
A aquisição da Fosfertil pela Vale deverá afetar positivamente a oferta de matérias-primas para fertilizantes no País. Essa é a opinião de Torvaldo Antonio Marzolla Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul (Siargs). "Esse negócio certamente foi um eco da orientação do presidente Lula e do ministro da Agricultura, Reinold Stephanes, que pediram à Vale para aumentar seus esforços de produção no Brasil", afirmou.
A indústria brasileira de fertilizantes é muito dependente de insumos explorados no exterior. Atualmente, segundo Marzolla, o Brasil importa 75% de suas necessidades para fabricação desses insumos. Dos 25% extraídos em território nacional, a maior parte é explorada pela Vale. "A única mina de cloreto de potássio brasileira fica em Sergipe, responde por 8% do consumo nacional e é lavra da Vale", informou. Com a nova aquisição, a empresa torna-se ainda mais dominante na produção de insumos no País. De acordo com o presidente do Siargs, a Fosfertil é responsável por 85% dos fosfatados e 100% dos nitrogenados explorados no Brasil.
No entanto, devido à grande dependência de minerais provenientes do exterior, a posição de dominância da empresa não deverá afetar de modo drástico os preços dos fertilizantes. "As companhias brasileiras não têm condições de fazer preços, elas apenas podem aceitar os preços estabelecidos no mercado mundial", destacou Marzolla.
O presidente do Siargs também lembra que a Vale já vinha expandindo sua presença no setor minerador de insumos para fertilizantes na América do Sul. Recentemente, a companhia adquiriu, da mineradora Rio Tinto, na Argentina, uma mina de cloreto de potássio. Além disso, a empresa também possui uma mina de rocha fosfática no Peru, considerada entre as de melhor qualidade no mundo. "Com a Vale apostando mais fortemente no setor de fertilizantes, certamente esses insumos deverão ser acessados mais facilmente pelas indústrias brasileiras", ressaltou Marzolla.
Vale compra participação na Fosfertil
A Vale anunciou ontem a aquisição da participação da Bunge BPI na Fosfertil. O acordo inclui os negócios de mineração de fertilizantes da Bunge no Brasil, inclusive a participação direta e indireta da companhia na Fosfertil. A Vale informou ainda que realizará oferta pública para aquisição de ações ordinárias detidas pelos demais acionistas da Fosfertil.
A Vale concordou em pagar US$ 3,8 bilhões, em dinheiro, para adquirir 100% dos ativos da Bunge, que detém portfólio de ativos de fertilizantes no Brasil composto por minas de rocha fosfática e plantas de processamento de fosfatados, além de participação direta e indireta de 42,3% no capital total da Fosfertil, correspondendo a 53,8% das ações ordinárias e 36,4% das ações preferenciais. A transação não envolve negócios de varejo nem distribuição de fertilizantes.
A Vale informou ainda que celebrou, através de sua subsidiária Mineração Naque, contratos de opção de compra e venda de ações de emissão da Fertifos Fertifos. Esses contratos de opção fazem parte do processo de aquisição de 100% do capital da Bunge BPI. A Fertifos é uma empresa de capital fechado que detém 56,73% do capital da Fosfertil. Os contratos de opção foram celebrados com Fertilizantes Heringer e Fertilizantes do Paraná (Fertipar).
Depois de efetivar a transação, a Vale está de olho nas ações de outros dois acionistas do bloco de controle da Fosfertil, a Mosaic (controlada pela Cargill) e a Yara, sucessora da Adubos Trevo. Segundo uma fonte do setor, as negociações já estão adiantadas e a expectativa é de que o acordo seja anunciado logo. "A mineradora tem intenção de deter 100% da Fosfertil e está confiante de que há um caminho para o entendimento tanto com a Mosaic quanto com a Yara", afirmou outra fonte que também acompanha as negociações. Atualmente, a Mosaic detém participação direta e indireta de 20,1% na empresa, enquanto a Yara tem participação total de 15,4%.
(JC-RS, 28/01/2010)