Rejeitos da criação de animais e restos das colheitas viram matéria-prima para a produção de energia usada na calefação de edifícios, criando ambientes agradáveis para enfrentar o rigoroso inverno do norte da Europa.
Calor e luz em abundância são coisas raras no inverno dinamarquês. Nesta época do ano, as pessoas andam apressadas pelas ruas ou aceleram a pedalada para chegar logo ao seu destino. Pois, se na rua as temperaturas negativas exigem casacos pesados, chapéus e luvas; ao entrar nas casas e edifícios é preciso se livrar rapidamente de todo estas roupas.
Para criar ambientes tão confortáveis, grandes volumes de matéria-prima precisam ser queimadas para gerar calor capaz de aquecer os locais fechados por onde circulam os mais de 5,5 milhões de habitantes do país. A boa notícia é que 41,1% da calefação produzida na Dinamarca vêm da queima da biomassa, incluindo aí lixo, rejeitos do campo, do setor madeireiro e da criação de animais.
O país possui 665 usinas de co-geração de energia (eletricidade e calor) e 230 usinas que produzem apenas aquecimento, que é distribuído com o uso de água em um sistema de tubulações.
A CarbonoBrasil visitou uma delas em uma pequena vila rural há 80km de Copenhague, onde um grupo de 21 agricultores decidiu formar uma cooperativa para produzir calor para suas residências usando o ‘lixo’ resultante do processo de criação de suínos.
Com a idéia na cabeça, eles fizeram um empréstimo de 60 milhões de coroas dinamarquesas, algo como 2,1 milhões de euros, em 1994 e montaram a usina de biogás próxima as suas propriedades.
Um caminhão coleta os resíduos da criação de animais nas fazendas e os leva até a unidade de biogás. Ali, das cerca de 220 toneladas de dejetos que chegam diariamente são obtidos cerca de 13 mil a 15 mil metros cúbicos de gás.
Deste modo, além de terem achado uma solução de descarte para o resíduo da sua produção, que é altamente poluente para os leitos dos rios e solo, os agricultores mantém as casas de 465 famílias das cidades de Dalmose e Flakkebjerg totalmente aquecidas no inverno. Isto sem contar que, no processo de produção do biogás, eles também obtêm adubo com alta riqueza de nutrientes para suas lavouras.
Dos campos para as caldeiras
Não muito longe dali, a cerca de 40 Km de Copenhague, na cidade de Borup, conhecemos outra iniciativa rural com duplo benefícios.
Um grupo de 29 fazendeiros se juntou em 1984 para construir uma usina de produção de energia para calefação com base na queima do feno, resíduo resultante da colheita na agricultura. A usina recebe hoje cerca de 7,6 mil toneladas de feno por ano e cada agricultor recebe cerca de 0,7 coroas por quilo de feno entregue.
O engenheiro Soren Mortensen, da empresa que construiu a usina, Andritz Sprout, explica que a soma paga depende da qualidade do feno. “Quanto mais seco, melhor o preço. No inverno, por exemplo, o material não pode ter mais de 20% de umidade”, diz.
A usina produz, em média, 7,5 MW por ano, que é usado para fornecer calefação a 1,7 mil casas. Mortensen explica que os consumidores pagam a metade do valor que pagariam pelo sistema convencional a gás ou carvão por exemplo. Segundo ele, a construção da usina custou 3 milhões de euros e, para mantê-la, são gasto apenas 3 mil euros anuais em manutenção.
Além disso, assim como na usina de biogás, nada se perde por aqui. As cinzas resultantes da queima do feno são mais uma vez reutilizadas no campo, também como fertilizante.
(Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 27/01/2010)