Em entrevista exclusiva à EcoAgência, João Pedro Stédile afirmou que o Brasil se transformou no maior consumidor de veneno. Segundo ele, estão colocando 700 milhões de litros por ano em 60 milhões de hectares, o que dá 10 litros por hectare ou 4 litros por pessoa.
No auditório lotado do Semapi, onde está acontecendo a Oficina sobre “O avanço das lavouras transgênicas no Brasil, situação, riscos e perspectivas para 2010”, uma atividade ligada ao Fórum Social Mundial, está o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile. No intervalo dos debates, ele afirmou à EcoAgência, que considera como o maior problema a ser enfrentado a curto prazo, o uso de agrotóxicos.
Conforme explicou, devido a hegemonia das empresas transnacionais, o Brasil se transformou no maior consumidor de veneno. “Estão colocando 700 milhões de litros por ano em 60 milhões de hectares, o que dá 10 litros por hectare ou 4 litros por pessoa. São venenos que não são biodegradáveis, destroem tudo,” disse.
Ele acredita que o efeito cumulativo do uso de agrotóxicos na produção de alimentos para a saúde humana somente será possível ser constatado dentro de cinco ou dez anos, tornando a pessoa mais suscetível ao surgimento de doenças como o câncer. “O agronegócio como grande propriedade, não consegue produzir sem veneno, porque a alternativa ao veneno é a biodiversidade, a convivência entre os seres vivos, onde um equilibra o outro, então, como eles querem impor o monocultivo, se obrigam a botar veneno,” disse. E adiantou sobre uma campanha de esclarecimento à sociedade que a Via Campesina está motivada a fazer, a de que “o agrotóxico é criminoso”, já que destrói vidas não só vegetais e animais mas, no futuro, de seres humanos.
MST e agroecologia
Sobre a inserção da temática ambiental no movimento, Stédile admite que, apenas nos últimos dez anos se iniciou uma orientação voltada à mudança da matriz produtiva no campo para a agroecologia. Mas, afirmou que, há uma diferença entre a linha sugerida pelo movimento e a adotada pelos assentados. “O comportamento dos agricultores em geral não é homogêneo, varia de Estado e região, porque sofre influências da sociedade, dos meios de comunicação, do meio onde vivem. O MST faz um trabalho de convencimento, já a realidade do mercado e do agrônomo, impõem condições,” explicou.
Além deste aspecto, o ativista apontou a falta de profissionais ligados à produção, atentos à temática ambiental. E, por isso, contou que o movimento tem feito esforços em parceria com universidades e escolas, para formar profissionais conscientes e empenhados na produção agroecológica. Assim sendo, o MST já formou duas primeiras turmas, uma na Universidade Federal do Pará, e outra no Estado do Sergipe.
Sobre esta última, lembrou a dificuldade que ainda enfrentam de reconhecimento, já que o Conselho Regional dos Engenheiros Agrônomos do Estado tentou impedir a realização do curso, tendo atrasado o cronograma em um ano. No Paraná e em São Paulo, também estão acontecendo cursos de agronomia agroecológica para assentados.
Já no Rio Grande do Sul, tentou-se promover um curso de veterinária na Universidade Federal de Pelotas, que está suspenso e uma ação corre na Justiça. Enquanto isso, acontecem cursos de nível médio em Veranópolis e Pontão. “O nosso esforço, que é de todos os movimentos ligados à Via Campesina e os assentados recuperem as sementes crioulas,” concluiu.
(Por Eliége Fante, EcoAgência de Notícias, 26/01/2010)