Os seminários sobre a primeira década do Fórum Social Mundial continuaram nesta terça-feira (26). No auditório da Assembléia Legislativa gaúcha, quatro personalidades discutiram o tema “A Conjuntura Econômica Hoje”. Eram eles: a escritora e ativista Susan George, presidente de honra da ATTAC-França; o professor Paul Singer (USP); o professor David Harvey (City University de Nova Iorque); e o sindicalista João Antônio Felício (CUT).
Para surpresa de muitos da numerosa platéia, os quatro participantes enfocaram muito mais as questões ambientais e seus desdobramentos sociais e econômicos. Em vez de única e simplesmente enveredar pelos gélidos debates em torno dos áridos temas da área da Economia.
Durante mais de três horas e com a participação ativa do público, através de risos e muitos aplausos, a escritora e ativista franco-norte-americana Susan George definiu bem o espírito da conferência: “Da Natureza à Economia, idéias e propostas do FSM devem se espalhar e contribuir para a solução desses graves problemas ambientais, sociais e políticos”.
Para Felício, da CUT, sem perder a perspectiva política será sempre necessário debater as várias concepções de desenvolvimento – mas com profundo respeito ao meio ambiente e à dimensão humana. Para ele, a questão ambiental ganhou uma “visibilidade espetacular”, nos últimos anos. E sobre as energias alternativas, frisou: “Não queremos transformar o Brasil em um grande canavial”.
Já o professor Singer preferiu exaltar os camponeses. Para ele, através da agroecologia, os camponeses estão na vanguarda na luta em defesa do meio ambiente. Defensor ferrenho da economia solidária, Singer relembrou a sempre presente e dura luta de classes, onde um pequeno número de megaempresas multinacionais detém um enorme poder sobre as grandes maiorias de trabalhadores em todo o mundo.
O professor de Nova Iorque, David Harvey, concorda com as posições de Singer. Para ele, o neoliberalismo é de fato um projeto capitalista de dominação de classe. E este neoliberalismo não está acabado. Na verdade, segundo Harvey, estaria até mais fortalecido - mesmo com a mais recente crise global enfrentada pelos países dominantes.
Já era quase uma hora da tarde, quando as últimas perguntas e questionamentos do público foram respondidos. Uma conclusão se impõe: embora não seja o ponto central dos debates dos 10 anos do FSM, o problema ambiental deverá se espraiar pelos diversos eixos do grande evento.Isso certamente virá reforçar as palavras de um dos fundadores do FSM, Cândido Grzybowski, citado na matéria da última segunda-feira: “A crise ambiental é tão urgente quanto o combate ao neoliberalismo, que resultou na destruição do meio ambiente em praticamente todas as regiões do Planeta”.
(Por Renato Gianuca, EcoAgência de Notícias, 26/01/2010)