De 2001 para cá, Lula veio abrandando o discurso esquerdista: acatou o modelo econômico que antes criticava, se aliou a tradicionais rivais e viu o próprio partido envolver-se em corrupção. Antes incondicionais paladinos de Lula, organizadores do Fórum ainda nutrem simpatia pelo presidente, mas agora reconhecem contradições e certa ineficiência no governo federal.
Parte da esquerda sentiu-se golpeada por Lula quando, ao assumir a Presidência, assumiu também princípios econômicos consolidados no governo Fernando Henrique.
– Entre a expectativa e a realidade, muitas decepções se criaram. Lula promoveu avanços, mas não as mudanças estruturais que, lá em 2001, vínhamos esperando – diz o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, envolvido com a organização do Fórum desde o início.
Grzybowski acredita, por exemplo, que as políticas sociais impulsionadas pelo presidente são meritórias, “o problema é estarem sempre condicionadas ao crescimento econômico”. Para o sociólogo – e para boa parte da cúpula do Fórum –, o governo Lula deveria redistribuir a renda sem esperar esse crescimento que, segundo Grzybowski, já está próximo do limite.
Na contramão dessa corrente, o cientista político Emir Sader diz que Lula vem numa crescente. O segundo mandato foi melhor que o primeiro, diz Sader, e “só quem discorda disso é a direita”. Na visão do sociólogo, Lula trabalhou de forma coerente, priorizando o ajuste fiscal nos primeiros anos e, mais tarde, direcionando seu governo às ações sociais – com a consolidação do Bolsa-Família e do Minha Casa, Minha Vida.
Presidente da Associação Brasileira de ONGs na Região Sul, Mauri Cruz afirma que o Fórum contribuiu para uma mudança no contexto político da América Latina. E Lula faz parte dela – como faz parte Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador):
– Em 2001, quando nasce o Fórum, o neoliberalismo e o Estado mínimo estavam em alta. Lula assume depois, incorporando bandeiras que o evento discutia e valorizando o mercado interno.
(Zero Hora, 26/01/2010)