O próximo encontro da Convenção Internacional sobre Comércio de Espécies Ameaçadas (Cites, na sigla em inglês), em março, será marcado por um embate entre nações africanas. Tanzânia e Zâmbia anunciaram sua intenção em vender mais de 100 toneladas de marfim. O estoque teria sido acumulado legalmente, por embate ou pela morte de elefantes de causas naturais. Ainda assim, a proposta causa controvérsia – há 20 anos, o comércio de marfim é alvo de um bloqueio internacional. Quênia, Congo e Libéria, entre outros países, temem que a iniciativa provoque a caça desenfreada de animais.
Antes de o produto ser rechaçado do comércio internacional, a população de elefantes africanos caiu pela metade – de 1,3 milhão, no início dos anos 80, passou para 625 mil, no fim daquela década. Nos últimos anos, no entanto, houve dois grandes leilões, que desencadearam uma nova onda de caças clandestinas a elefantes. Hoje, Senegal e Libéria teriam menos de dez representantes da espécie. Os poucos sobreviventes que restavam em Serra Leoa foram dizimados em novembro. No ano passado, pelo menos 15 toneladas de presas e peças de marfim foram apreendidos na Ásia ou a caminho daquele continente – a carga equivale a 1.500 elefantes.
No último leilão de marfim organizado pelo Cites, em 2007, foi definido que não haveria mais eventos como aquele por, pelo menos, nove anos. Delegados da Coalizão pelos Elefantes Africanos, composta por 23 governos daquele continente, foram a Bruxelas para pedir à União Europeia para que condene a retomada do comércio de marfim.
“Se não deixarmos a população de elefantes se recuperar nos próximos 20 anos, o que só pode ser feito bloqueando qualquer tipo de comércio envolvendo o animal, não haverá mais espécies fora de zoológicos e reservas”, alertou Bourama Niagate, diretor de parques ambientais em Mali. “A Europa precisa fazer a coisa certa e nos apoiar, antes que seja tarde demais.”
(O Globo / ANDA, 25/01/2010)