40% estão sob o asfalto em avenidas como a 23 de Maio
São Paulo tem aproximadamente 40% de seus rios enterrados. Avenidas como 23 de Maio, 9 de Julho, Bandeirantes, Berrini e Vicente Rao escondem corpos de água "fantásticos", diz o engenheiro Aluisio Canholi, especialista em macrodrenagem. No total, são 650 km de antigos riachos ou grandes rios que estão encaixotados.
Por causa dessa escolha, além da ocupação quase sempre legalizada de várzeas e da alta impermeabilização, é que as enchentes ocorrem. Como ele diz, é o mesmo que uma estrada. Antes sinuosa, agora ela é reta. Conclusão: o congestionamento ocorre no final dela. No caso dos rios, tudo acaba no Tietê.
As canalizações sempre ocorrem com a retificação. Nos anos 1970, o rio Aricanduva, quando desembocava no Tietê, tinha uma largura três vezes maior.
"São Paulo não pode mais pensar em canalizar seus grandes rios, sob pena de aumentar as enchentes", afirma o engenheiro, diretor da Hidrostudio Engenharia e coordenador técnico do Plano de Macrodrenagem do Tietê. Para ele, apenas devem ser feitas as que estão previstas no plano, feito há dez anos, e que está com sua implementação muito atrasada -menos da metade dos piscinões previstos, por exemplo, estão em funcionamento.
Para a ambientalista Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, o problema das canalizações não é apenas aumentar a velocidade das água em direção ao Tietê. "Essas obras também escondem toda a sujeira que é jogada nestes lugares", diz.
Se do ponto de vista utópico um rio poderia até voltar a fluir se fosse liberado do concreto, do ponto de vista prático, a solução passou a ser os piscinões. "Funcionam como várzeas artificiais", diz Canholi.
No caso do Tietê, que na quinta voltou a parar São Paulo, continuar com a construção dos piscinões em cada uma das bacias que deságuam nele é uma das poucas saídas possíveis.
"Mas a várzea do Tietê, antes da Penha, ainda pode ser preservada com a construção de um parque linear", diz o especialista, que está projetando esta obra para o governo.
(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 24/01/2010)