A queda na taxa do desmate em Mato Grosso não foi de todo acompanhada pela queda de emissões de gases do efeito estufa. Uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) feita em três municípios aponta um aumento médio de 30% nas emissões da agropecuária do Estado de 2001 a 2007.
Em Sorriso, a expansão da soja foi determinante para um aumento de 20% das emissões derivadas do uso do solo no período. Em Alta Floresta, a pecuária puxou um aumento de 39%, segundo o estudo, liderado pelo biólogo Diego Lindoso.
Em alguns municípios, o desmate já não é mais a principal fonte de emissões. A cultura da soja em Sorriso, por exemplo, respondeu por 60% das do volume de gases-estufa contabilizado em 2007 -em 2001, representava 5%. Em Alta Floresta, a expansão do rebanho bovino foi responsável por praticamente todo o aumento das emissões ocorrido no período.
Em Feliz Natal, o terceiro município estudado, as emissões da sojicultura aumentaram 4.100% no período, mas o desmatamento não caiu tanto, e continuou a responder por quase 100% das emissões.
Enquanto bois contribuem para o efeito estufa sobretudo com o metano da fermentação entérica, o cultivo de soja o faz pela emissão de óxido nitroso emanado de fertilizantes.
De acordo com Lindoso, há "fortes evidências" de desequilíbrio ambiental no atual modelo econômico do Estado.
"Sorriso tem 75% das florestas originais desmatadas e Feliz Natal, cerca de 20%", disse. "Feliz Natal tende a seguir o comportamento de desenvolvimento de Sorriso, reduzindo suas matas em detrimento da agropecuária extensiva."
Para Rui Prado, porém, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária, os números de Lindoso estão baseados num cenário defasado, "de dez anos atrás". "Hoje produzimos muito mais em muito menos espaço. Só com a produtividade, que não entrou na conta do pesquisador, poupamos 14 milhões de hectares", afirmou. O governo de MT não questionou os números, mas disse que em 2009 as emissões já tinham caído.
(Por Rodrigo Vargas, Folha de S. Paulo, 23/01/2010)