Em dois dos nove canteiros com ovos de tartaruga da espécie tigre d'água descobertos pelo Comando Ambiental da Brigada Militar no interior do Rio Grande no último dia 8, já iniciaram a eclosão. Na última quarta-feira, quando os ovos começaram a eclodir, a equipe do Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre da Universidade Federal de Pelotas (NURFS/UFPel) recolheu 773 tartarugas recém-nascidas em um só canteiro. Ontem, mais aproximadamente 1.000 filhotes nasceram. Entre as que nasceram na quarta-feira, estão uma albina e filhotes gêmeos.
A eclosão foi detectada a partir de amostras coletadas pelo coordenador do NURFS, professor Luiz Fernando Minello, e sua equipe quando os canteiros foram descobertos e levadas ao Núcleo para controle do nascimento. Unidades das amostragens destes dois canteiros começaram a eclodir quarta-feira e os técnicos foram verificar nos locais. O processo de eclosão nestes dois canteiros clandestinos, nos quais a estimativa é de que estejam 10 mil ovos, deve estender-se ainda por cinco ou 10 dias. Nos outros, considerando a existência de ovos de posturas ocorridas em outubro e novembro, pode ir até o início de março.
Todas as tartarugas que nascerem nos canteiros apreendidos, situados em cinco propriedades da localidade de Barra Falsa (próximo a Pelotas), serão levadas para o Núcleo de Reabilitação da UFPel, onde permanecerão até estarem em condições de serem inseridas no meio ambiente. De acordo com o professor Minello, os ovos que estão eclodindo agora são da primeira postura, que ocorre em agosto e setembro, e os filhotes que estiverem aptos antes de terminar o verão serão liberados. Os demais serão reconduzidos ao habitat somente na primavera, porque no outono e inverno os pequenos animais terão dificuldade de alimentar-se e poderão não sobreviver ao frio. Isso porque os filhotes de répteis precisam de sol e calor para regularem a temperatura corporal.
A estimativa do professor é de que nos nove canteiros estejam "plantados", ao todo, 30 mil ovos e que haja 20% de perda. Desde a descoberta, o Comando Ambiental mantém esses criatórios clandestinos sob vigilância permanente, trabalho que continuará enquanto houver necessidade. O Comando Ambiental conseguiu identificar até ontem seis pessoas responsáveis pelas propriedades em que estão os canteiros e acredita que falta localizar apenas um. As identificadas já foram ouvidas e responderão processo por este crime ambiental. A intenção destas pessoas era comercializar os filhotes como animais de estimação, segundo o Comando Ambiental.
Tartaruga albina
O nascimento de tartaruga albina não é muito comum. Em 30 mil ovos, se forem encontradas duas é muito, segundo o professor Minello. "Em outras experiências, nunca encontramos mais que uma na eclosão de 30 mil ovos", relatou. A albina não será liberada no meio ambiente, porque, devido à sua cor clara (é amarela), será facilmente vista pelos predadores e não sobreviverá. Ela ficará no NURFS para estudo sobre o albinismo na espécie.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 22/01/2010)