Discussão não vinha a público por causa de resistência, afirma usineiro
Unica -entidade das usinas- nega que existam planos de importação, defendida por usineiro e especialista da USP
Uma das saídas para a oferta escassa de etanol no mercado interno é a importação de etanol de outros países, como o biocombustível produzido a partir do milho pelos Estados Unidos, segundo especialistas do setor ouvidos pela Folha.
Essa hipótese veio a público anteontem à noite, divulgada na internet com base em declarações do presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcus Jank. A entidade, no entanto, negou por meio de sua assessoria que tenha planos de importar etanol ou que negocie tal ação com membros do governo.
De acordo com o consultor e empresário Maurilio Biagi Filho, a importação é uma discussão já antiga no setor, mas que não é trazida à público por enfrentar grande resistência.
"Faz muito tempo que eu defendo a importação. Se queremos transformar o etanol em comomoditie, temos que negociar com todo mundo, não podemos querer só vender", afirmou o empresário.
Membro do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), do governo Lula, Biagi Filho disse que a discussão sobre eventual diminuição da tarifa de importação do etanol já está sendo discutida no governo federal.
Ele disse já ter defendido, diante de empresários, uma negociação "governo-governo" -entre Brasil e Estados Unidos- para a importação de quantidade de etanol para suprir a falta temporária do combustível no mercado interno.
Para o professor de estratégia da USP Marcos Fava Neves, a importação de etanol pode contribuir para persuadir o governo norte-americano a baixar as tarifas de importação do álcool brasileiro. "Precisamos mostrar que vamos vender, mas também vamos ser compradores quando tivermos problemas", disse. Os dois especialistas afirmam que, com o preço do etanol da cana-de-açúcar em ascensão, o preço do álcool de milho torna-se uma opção viável economicamente.
(Folha Ribeirão, 21/01/2010)