Indignadas com cheias, 63 pessoas improvisam moradia em uma área pública de Novo Hamburgo
Expulsas de casa a cada vez que o arroio vizinho enche por causa da chuva forte, 12 famílias de Novo Hamburgo decidiram abandonar suas moradias nesta semana. Canos de concreto de 1m50cm de altura por 1m50cm de largura servem de abrigo para 24 adultos e 39 crianças. Eles anunciam que ficarão no local até que a prefeitura sinalize com uma solução ao problema.
As casas da Rua Capanema, no bairro Santo Afonso, ainda têm marcas do último alagamento causado pela chuva de sábado. Desde setembro, os moradores contabilizam cinco situações em que deixaram as residências e aceitaram o refúgio em uma escola municipal. Desta vez, eles se negaram a voltar ao abrigo temporário: querem deixar a área irregular, invadida anos atrás, de forma definitiva.
– Se a gente aceita o abrigo ou vai para casa de parentes, a prefeitura acha que o problema está resolvido. Tivemos de vir dormir aqui para mostrar que precisamos de ajuda – diz o industriário Juliano Soares, 23 anos.
Desde segunda-feira, das 6h às 14h, Soares trabalha. O descanso que deveria vir em seguida é dentro do cano onde ele acomodou um colchão de casal que divide com a companheira Maristane, 22 anos, e a filha Mariani, de um ano e oito meses.
De longe, o motoboy Mário Fagundes Bernarde, 45 anos, solidariza-se:
– Sei bem o que eles estão passando. Só o que eles querem é um lar digno.
O grupo sugere que o terreno onde estão os canos da Secretaria Municipal de Obras se transforme no espaço para construir suas casas, longe do Arroio Gauchinho. O secretário municipal de Habitação, Juarez Kaiser, descarta a proposta, porque a área está destinada a uma praça.
– Eu não posso tomar conta das praças para fazer habitação. Se a enchente já passou, eles têm de voltar para a casa. Foi o lugar que eles escolheram para morar – define Kaiser.
A prefeitura garante ter projetos de habitação que poderiam ajudar os manifestantes, que contam estar dispostos a pagar por nova moradia. Enquanto o impasse se prolonga, eles dizem preferir os canos às casas.
– Ontem (terça-feira), quando voltou a chover, eu sabia que não entraria água dentro do cano. Já na minha casa eu estaria com medo – afirma a industriária Juliana Silveira da Silva, 19 anos.
(Por Leticia Barbieri, Zero Hora, 21/01/2010)