Se como tudo indica o governo conseguir em breve, do Ibama, a licença ambiental do projeto de Belo Monte, a maior hidrelétrica a ser construída no país desde que Itaipu foi inaugurada, nos anos 80, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, terá mais um trunfo publicitário - na linha do "Brasil, Quinta Potência" - para exibir na campanha presidencial.
O governo aposta que o leilão aconteça ainda no primeiro semestre, possivelmente em março. Mas além de contar com a forte oposição de ambientalistas e de tribos indígenas no rio Xingu, no Pará, onde Belo Monte deve ser erguida, a própria construção da usina significa um enorme desafio técnico e financeiro.
Um sintoma disso é a decisão das empreiteiras rivais, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, de marcharem juntas, como parceiras do mesmo consórcio no leilão de concessão de Belo Monte.
Segundo altos executivos das construtoras, as maiores do país, só em equipamentos - guindastes, tratores, perfuratrizes e caminhões - a construção da usina, a maior do Brasil depois de Itaipu, vai exigir um investimento de 1 bilhão de reais.
Hoje, os candidatos a Belo Monte se dizem preocupados com o preço teto do leilão para a energia a ser vendida pela usina.
Os cálculos do governo indicam que o custo da construção de Belo Monte seria de 16 bilhões de reais. Com isso, o teto do leilão da energia da usina ficaria entre 80 e 90 reais.
Já os investidores fazem outra conta. Eles dizem que Belo Monte, cuja construção exigirá um canal maior do que o do Panamá, deve custar cerca de 30 bilhões de reais. Tal valor se baseia no cálculo de que cada megawatt instalado custa três milhões de reais para ser construído.
E como a usina terá uma potência de 11 000 megawatts, para eles 30 bilhões de reais seria um cálculo mais razoável.
Segundo investidores ouvidos pelo blog, o preço teto para a energia do leilão de Belo Monte deveria ser superior a 100 reais.
Em conversas reservadas, os possíveis candidatos a levar a concessão dizem que se o governo não aumentar o preço, pode haver um "no show" - ausência de candidatos - no leilão.
Uma coisa é certa: a exemplo das usinas do rio Madeira - atualmente em construção - Belo Monte também deve ter empresas subsidiárias do sistema Eletrobrás como sócias. Além delas, a Vale, que apesar de ser uma empresa privada, tem o governo como forte acionista, também poderia vir a participar da concorrência.
Além de encorpar a disputa, a participação das estatais poderia, no futuro, garantir a compra de energia por um preço satisfatório tanto para o governo quanto para os concessionários privados de Belo Monte.
Trocando em miúdos, se o leilão de Belo Monte der prejuízo para seus vencedores, no futuro esse mico seria pago pelos compradores de energia do sistema
Eletrobrás, como as grandes distribuidoras Cemig, CPFL e Copel. Elas por sua vez repassariam a fatura aos consumidores cativos de energia na conta de luz.
(Por Angela Pacheco Pimenta, Exame, 20/01/2010)