Presidente do painel declarou que, mesmo errando a data, problema é real. IPCC afirmava que geleiras do Himalaia iriam 'desaparecer' até 2035
O presidente do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), Rajendra Pachauri, defendeu nesta terça-feira (19/01) em Abu Dabi seu grupo de especialistas, acusados de terem feito uma previsão errada sobre o degelo das geleiras do Himalaia.
Em 2007, em seu quarto relatório - que valeu ao grupo o Prêmio Nobel da Paz -, o IPCC advertiu que as gelerias da cordilheira do Himalaia estavam derretendo mais rápido do que as outras geleiras do mundo, e que "poderiam desaparecer até 2035". O prazo pode não estar baseado em nenhuma pesquisa, segundo revelações do jornal "Sunday Times", divulgadas no último fim de semana.
Pachauri declarou à imprensa, à margem de uma cúpula sobre as energias do futuro, que, embora a data estimada esteja errada, o aquecimento global é real.
"Digamos que tenhamos nos equivocado sobre um número, mas isso não invalida as provas científicas referentes ao clima na Terra", destacou. O IPCC foi duramente criticado por sua previsão errada.
O professor Georg Kaser, do instituto de glaciologia de Innsbruck (Áustria), disse na segunda-feira (18) que havia detectado "erros" no relatório, e que informou os autores do documento sobre eles, mas foi ignorado.
"No fim de 2006 (...), me dei conta desse erro e de alguns outros. Foi antes da última revisão, mas antes da publicação, portanto existia a possibilidade de modificar" o texto, disse Kaser, procurado pela AFP. "Eu disse a eles", insistiu. "Mas, por motivos que desconheço, ninguém reagiu", afirmou, lamentando a atitude de seus colegas. Kaser confessou temer que este "caso" afete a credibilidade dos especialistas do IPCC.
Este caso pode trazer um novo revés para os estudiosos do painel do clima da ONU, encarregados de dar sustentação científica às decisões dos políticos, após o caso do "climagate" que veio à tona antes da cúpula de Copenhague. A polêmica começou quando milhares de e-mails pirateados de especialistas da universidade de East Anglia, no Reino Unido, sugeriram que o aquecimento global não é causado pela atividade humana.
No entanto, os participantes de Copenhague afirmaram que o caso foi usado para semear confusão e desacreditar as evidências científicas da influência do homem nas mudanças climáticas sofridas pelo planeta.
(France Presse / G1, 19/01/2010)