Moradores reclamam da quantidade de armas e afirmam não estarem em conflito.
Enquanto aguardam em filas nas calçadas por um balde d'água, muitos haitianos que ainda não têm onde morar dizem "estranhar" a quantidade de militares que não param de chegar ao país desde o terremoto.
"Por que não enviam médicos e engenheiros? Não precisamos de militares, não estamos em conflito", diz Wilson Junior, 30 anos. "As pessoas estão com fome, para que tantas armas?", acrescenta, em tom de reclamação.
Um outro haitiano, que se identificou apenas como Setoute e que vive na favela de Cité Soleil, diz que espera viver "em um país livre, apesar de tudo". "Queremos solidariedade, mas queremos também nossa liberdade", disse o jovem, referindo-se à maciça presença de estrangeiros no país.
A estimativa do governo brasileiro é de que, pelo menos, cinco mil militares americanos já estejam em território haitiano. Mas a expectativa é de que esse número chegue a 13 mil nos próximos dias. O Brasil, por sua vez, tem 1.266 homens e estuda dobrar esse número, o que pode ocorrer em breve.
Organização
Pelas ruas de Porto Príncipe, uns poucos militares da Minustah (a Missão de Estabilização das Nações Unidas no país, chefiada pelo Brasil) podem ser vistos tentando organizar o trânsito ou a distribuição de água.
Já os militares americanos que estão no país ainda não circulam pelas ruas de forma ostensiva. Eles estão concentrados no aeroporto, em um grande acampamento montado com centenas de barracas armadas ao lado de onde funcionava o terminal de passageiros.
De acordo com o Itamaraty, os governos brasileiro e americano discutem uma forma de "sistematizar" a distribuição de comida entre os haitianos. Em alguns acampamentos, por exemplo, os alimentos são jogados de helicópteros militares, o que não é considerado um procedimento ideal, por estimular disputas e privilegiar os mais fortes.
Tranquilidade
Os militares brasileiros no Haiti argumentam que a presença das tropas nas ruas é essencial para manter a "tranquilidade" na distribuição dos alimentos. "Esse é o tipo de trabalho que as ONGs não dão conta de fazer. É arriscado demais", diz um tenente do Exército.
Segundo ele, houve troca de tiros na tarde de segunda-feira entre militares brasileiros e policiais locais, que tentavam roubar uma carga de mantimentos. "Esse é um momento delicado e se não tivermos uma distribuição de alimentos sistematizada, aí sim poderemos ter uma situação de conflito", diz o tenente.
(BBC / G1, 19/01/2010)