Uma semana após o devastador terremoto de magnitude 7 que atingiu ao menos quatro cidades do Haiti, os médicos e especialistas alertam que a falta de tratamento médico para os feridos e epidemias de doenças infecto-contagiosas, agravadas pela falta de água potável e sistema sanitário adequado, pode aumentar o saldo de vítimas no país.
As equipes médicas que trabalham em hospitais móveis, enviados por diversos países, incluindo o Brasil, dizem já estarem saturados pelos feridos que não param de chegar. Eles alertam para a ameaça imediata de uma epidemia de tétano e gangrena, assim como meningite e outras infecções.
Ninguém arriscou estimar o número de feridos pelo terremoto do último dia 12, que destruiu boa parte da capital, Porto Príncipe, e outras três cidades, e deixou milhares de mortos --incluindo 19 brasileiros.
A prioridade, por enquanto, é atender as emergências e ferimentos que deixam os haitianos mais vulneráveis a infecções. Segundo Paul Garwood, porta-voz da equipe de Ação de Saúde em Crises da OMS (Organização Mundial de Saúde), a infecção de ferimentos é uma grande causa de mortes em situações de tragédia como a do Haiti.
Depois, as equipes devem se dedicar às dezenas de milhares de pessoas que ficaram desabrigadas pelo tremor --e aí, a preocupação vai desde surtos de diarreia à infecções respiratórias, cólera, meningite e até mesmo da gripe suína, denominada oficialmente gripe A (H1N1). Apesar da baixa letalidade, a gripe pode se transformar em grande causa de morte em pessoas que já enfrentam outras doenças ou condições sanitárias precárias. O risco maior é que o vírus, que já matou milhares em todo o mundo, é transmitido facilmente.
Os médicos destacam ainda que muitos pacientes com o vírus HIV, câncer e outras doenças crônicas podem morrer sem tratamento.
"A estrutura do Estado foi tão severamente atingida e a estrutura humanitária existente também", constata Giuseppe Annunziata, coordenador de emergência da OMS (Organização Mundial de Saúde) no Haiti, citado pela rede de TV CNN.
Segundo Annunziata, as equipes vivem um pesadelo humanitário já que os serviços básicos de saúde "colapsaram completamente".
"Isso cria muitos desafios", completa David Gazashvili, líder da equipe de emergência enviada ao Haiti pela ONG Care, de combate à pobreza, também citado pela CNN. Ele lembra que, mesmo antes do tremor, Haiti já enfrentava desafios em fornecimento de comida e água limpa a seus moradores.
Tragédia
O terremoto aconteceu às 16h53 do último dia 12 e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país, que ficou virtualmente devastada. O Palácio Nacional e a maioria dos prédios oficiais desabaram. O mesmo aconteceu na sede da missão de paz da ONU no país, a Minustah, liderada militarmente pelo Brasil.
Ainda não há um dado preciso do total de mortos. A Organização Pan-Americana de Saúde, ligada à ONU, afirma que podem ter morrido cerca de 100 mil pessoas. Já a Cruz Vermelha estima o número de mortos entre 45 mil e 50 mil.
O governo do Haiti já chegou a estimar em 200 mil o número de mortos. Cerca de 70 mil corpos já foram enterrados em valas comuns desde o terremoto, disse neste domingo o secretário de Alfabetização local, Carol Joseph.
Segundo o governo brasileiro, 19 brasileiros morreram no país --17 militares e dois civis, a médica Zilda Arns e o chefe-adjunto civil da missão da ONU no Haiti, Luiz Carlos da Costa. O corpo de Costa foi encontrado neste sábado (16).
O ministro da Defesa, Nelson Jobim,diz que há ainda um terceiro civil não identificado. O governo não confirma a informação.
(Folha Online, 19/01/2010)