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cop/unfccc plano climático
2010-01-19 | Tatianaf

O final frustrante da COP15, sem a aprovação de um acordo pós-Kyoto, criou nas pessoas um sentimento de impotência. Afinal de contas, um número tão grande de pessoas envolvidas nesta discussão sem chegar a um consenso. Esta situação deixa claro que a preocupação com a geração de lucros, como tem acontecido historicamente, é colocada acima dos interesses comuns, isto se torna mais grave neste caso, pois se trata de um problema que afeta todo o planeta.

A insustentabilidade do modo de produção pós-revolução industrial tem sido ampla e repetidamente anunciada desde a década de 1960, quando surge o movimento ambientalista moderno. Este deixou de lado a visão do meio ambiente como um Jardim do Éden, segundo a qual existe uma dicotomia entre o homem e a natureza. O novo movimento ambientalista, além de colocar o homem como integrante da natureza, passa a questionar o sistema capitalista – excludente e poluidor – absorvendo o discurso da esquerda, que permanecia desconexa com as questões ambientais.

Posteriormente, na década de 1980, surge um ponto de convergência entre as agendas ambientalista e social, que é a idéia de Justiça Social que engloba um conjunto de princípios e práticas que asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operações econômicas, de decisões políticas e de programas de política publica, assim como da ausência ou omissão de tais políticas.

Pode-se afirmar que desde a fase preparatória para a Rio-92, o movimento ambientalista tem amadurecido e diversificado, passando a integrar várias correntes – direita, esquerda, primitivistas, “tecnocentristas” – e usando muitos dados científicos. Com grandes movimentos contra o uso de agrotóxicos, buraco da camada de ozônio e chuva ácida, por exemplo. E nos últimos anos, as mudanças climáticas passaram a ser o centro das atenções após a publicação do relatório do IPCC em 2007, tornando-se um assunto comum na mídia televisiva, e amplamente divulgado na internet, passando a fazer parte da vida das pessoas esta discussão.

Apesar disto, a apresentação das evidências cientificas que comprovam as mudanças climáticas e que fazem previsões do que poderá acontecer por causa do aumento de CO2 e de outros gases na atmosfera tem sido feita a partir de “Manchetes Hollywoodianas”, ou seja, de forma alarmante, sendo a noticia importante somente quando assusta ou é algo curioso, e propostas para solucionar tais problemas não são apresentadas. Estas noticias criam um sentimento de preocupação nas pessoas, visto o que poderá acontecer. Porém, como as pessoas não são informadas de quais ações elas podem tomar para minimizar as mudanças climáticas, permanecem numa posição de aceitação da situação atual.

Contudo, em 2009, houve uma grande mudança neste aspecto, as pessoas passaram a buscar mais informações sobre o tema, até mesmo os grandes meios de informação passaram a apresentar alternativas para minimizar as agressões ao meio ambiente – de forma superficial e com muitos interesses econômicos envolvidos. Desta forma, umas das ações divulgadas e que passaram a ser foco de ação de muitas pessoas é a de pressionar os lideres políticos para buscarem alternativas. O ponto alto disto tudo foi durante a COP15, com manifestações diárias e uma grande manifestação com mais de 100 mil pessoas.

A participação social é a única forma de que mudanças reais para minimizar as mudanças climáticas ocorram. Isto ocorre porque um sentimento de união entre as pessoas não existe no mundo político e dos negócios, sendo que estes dois apenas usam destes sentimentos quando interessa aos negócios ou em períodos de eleições. Pressionar os líderes políticos é uma possibilidade de exercer o papel cidadão de cada um. Outra possibilidade são as iniciativas individuais e coletivas, comportamentos menos impactantes ao meio ambiente e que sejam socialmente mais justos.

Em dezembro de 2010 acontecerá uma nova COP, a 16ª, na Cidade do México. Para que esta conferência tenha êxito, nós não podemos desanimar com o resultado político ruim da COP15, e sim encarar este resultado como um escancaramento da situação global e da necessidade de que todos continuem se informando, pressionando as lideranças políticas e mudando comportamentos, desta forma, exerceremos uma forte pressão para que compromissos reais sejam assumidos e um novo acordo que seja ambicioso e com validade legal, que realmente implemente iniciativas contra o aquecimento, possa ser aprovado. Assim, criaremos a possibilidade de alcançar um planeta mais justo socialmente e com um meio ambiente equilibrado. A COP15 foi mais um desafio, que poderia ter tido resultados melhores, mas que deixou um legado de mobilização social que será essencial para as próximas “batalhas” envolvendo sustentabilidade planetária.

(EcoDebate, 19/01/2010)

Valdir Lamim-Guedes: Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Minas Gerais. E-mail: dirguedes{at}yahoo.com.br


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