Tese de doutorado na UFRJ cria sistema automatizado de alerta. Solução depende de processamento de dados que já estão disponíveis
Uma tese de doutorado apresentada há quase seis anos no Brasil afirma que é possível prever deslizamentos de terra, desde que dados registrados e disponíveis sejam usados com mais sabedoria. O mesmo princípio seria aplicável à previsão de terremotos .
Elaborada pelo engenheiro civil paranaense Fábio Teodoro de Souza entre março de 2000 e junho de 2004, o trabalho “Predição de escorregamentos das encostas do município do Rio de Janeiro através de técnicas de mineração de dados” constrói modelos computacionais que associam dados históricos de deslizamentos, índices pluviométricos e características do solo e indicam a probabilidade de que os fenômenos se repitam diante da recorrência de determinadas condições. Agora Souza está na China, desenvolvendo modelos similares para prever sismos.
A pesquisa foi desenvolvida no programa de pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Após incursões acadêmicas na Itália e nos EUA, onde colaborou com instituições como o MIT e a Universidade Harvard, desde outubro de 2008 Souza faz seu pós doutorado no Instituto de Engenharia Fluvial e Costeira da Universidade Tsinghua, em Pequim.
A metodologia para alertar sobre riscos de deslizamentos é baseada em mineração de dados (ou data mining), a exploração de grandes quantidades de variáveis em busca de padrões consistentes. “Com uma rede bastante densa de pluviômetros e estações meteorológicas, esses modelos poderiam ser usados para indicar não somente riscos de deslizamentos, mas também de enchentes, descargas elétricas e quaisquer outras catástrofes induzidas por fenômenos meteorológicos”, explicou Souza ao G1.
Sozinhos, evidentemente, esses modelos não podem evitar os eventos em si. Mas ajudariam, por exemplo, a balizar a ação de equipes de Defesa Civil e (com um pouco de otimismo) orientar políticas públicas que evitassem a ocupação de áreas vulneráveis. “Os modelos foram validados em dados reais e com acurácia extremamente alta, sempre maior que 90%”, assegura Souza.
O problema é que ninguém deu bola para o produto final do doutorado de Souza, o que, aliás, pesou muito em sua decisão de transferir-se para centros de pesquisa no exterior. “Quando eu acabei, imprimi mais de 30 cópias e entreguei um exemplar da tese para cada instituição de governo ou dedicada a alerta e a operações de resgate”, conta Souza. “Mas ficou nisso, não passou do ‘depois a gente se fala’. Não houve interesse de implementação.”
(Por Ricardo Muniz, G1, 14/01/2010)