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tigres siberianos extinção de espécies
2010-01-18

Espécie tem o mais baixo nível de diversidade genética entre tigres selvagens. Hoje há cerca de 900 animais em todo o mundo

Este tem sido um longo século para o tigre de Amur, ou siberiano (Panthera tigris altaica), o maior das seis subespécies de tigres remanescentes. Caçados praticamente até a extinção, restavam apenas 50 tigres quando a Rússia protegeu a espécie em 1947, mas mesmo assim a caça ilegal logo baixou o número para não mais que 20.

A aplicação da lei e a conservação cuidadosa nas décadas seguintes, entretanto, fizeram maravilhas, e hoje a população mundial de tigres siberianos chega a mais de 900 exemplares – 421 em cativeiro e estima-se, aproximadamente 500 em ambiente selvagem.

Apesar desse sucesso, pode ainda existir uma ameaça escondida nos próprios genes do tigre siberiano. Uma nova pesquisa conduzida por uma equipe da University of British Columbia, em Kelowna, Canadá, mostrou que os tigres siberianos selvagens têm uma “população efetiva” de apenas 27 a 35 tigres distintos, o que significa que apresentam um nível muito baixo de diversidade genética – na verdade, o mais baixo já encontrado entre tigres selvagens.

O estudo, publicado na Molecular Ecology, estudou o material genético encontrado nos excrementos de 95 tigres, o que representa aproximadamente 20% da população selvagem.

O diretor interino do Centro de Estudos de Espécies em Risco e Hábitat da UBC e principal autor do estudo, Michael Russello, esperava encontrar um “ponto de estrangulamento genético” na população de tigres siberianos, mas esse estudo não apresentou nenhuma evidência específica de problemas de endogamia. No entanto, diz, “realmente detectamos evidências de um estrangulamento histórico, provavelmente ligado à abrangência da ocupação do tigre no período após a idade do gelo há 10 mil anos”.

O resultado, segundo ele, é que “os tigres siberianos provavelmente têm sobrevivido com níveis baixos de variedade genética há muito tempo, o que potencialmente impediu um prejuízo mais sério no declínio ocorrido no século 20.” (Para mais informações sobre a disseminação dos grandes felinos, ver o artigo “A evolução dos gatos”, por Stephen J. O’Brien e Warren E. Johnson; SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, agosto de 2007.)

Apesar do baixo nível de diversidade genética, os tigres siberianos parecem ser, por enquanto, genomicamente sadios. Segundo Russello, “no que diz respeito à saúde genética, nenhum sintoma físico de depressão endogâmica foi relatado em tigres siberianos selvagens, como tem acontecido com outros grandes felinos cujas populações sofrem graves estrangulamentos”, como, por exemplo, a cauda torcida na pantera da Flórida (Puma concolor) ou as anormalidades no esperma dos guepardos africanos (Acinonyx jubatus).

Mas a falta desses sintomas endogâmicos pode não ser permanente, graças à pressão do desenvolvimento humano exercida sobre os tigres. A pesquisa de Russello descobriu que os tigres siberianos fazem parte de dois grupos populacionais principais que se separaram. A maior parte dos tigres vive nas montanhas Sikhote–Alin, na Rússia, mas uma população menor de apenas 20 tigres vive na região sudoeste de Primorye, próximo da fronteira da Rússia com a China. Essa população isolada, que quase nunca interage com o grupo maior, apresenta uma população efetiva de apenas 2,8 a 11 indivíduos.

Conectar essas duas populações pode ser essencial para preservar a diversidade genética do tigre siberiano, principalmente para o segundo grupo. “Uma implicação imediata do nosso trabalho no que diz respeito à conservação é facilitar o contato e a troca de genes entre indivíduos dessas duas regiões”, observa Russello. “Isso é importante principalmente para a população do sudoeste de Primorye, que, devido a seu pequeno tamanho continuará sofrendo uma perda de variação genética se não tiver uma afluência de genes de Sikhote-Alin.

Além disso, acredita-se que o sudoeste de Primorye pode funcionar como uma fonte em potencial para recolonizar populações eliminadas na China, portanto é muito importante manter a saúde populacional naquela região.” Estudos nos anos de 1990 indicaram que menos de 15 tigres siberianos ainda viviam na China, sem evidência de fêmeas reprodutoras.

No entanto, “a maior parte do hábitat disponível para os tigres siberianos continua a existir no lado chinês da fronteira”, esclarece Russello. “Esse fato, juntamente com a crescente vontade política, na China, de promover a conservação do tigre no nordeste, é encorajador para o futuro desses animais na região.”

Detalhe interessante: a pesquisa de Russello indicou que tigres siberianos cativos podem representar um bônus genético para a espécie. Sua equipe retirou amostras de 20 tigres cativos na América do Norte e encontrou variações genéticas que já não existem mais entre a espécie selvagem. Essa diferença não significa necessariamente que os tigres cativos precisem cruzar com os selvagens.

Segundo Russello, “no presente momento a reintrodução dos tigres siberianos não parece ser justificada, já que os custos associados a esse esforço, como transmissão de doenças, seriam provavelmente maiores que qualquer benefício relacionado com a introdução de variação genética proveniente dos animais em cativeiro, o que não significa que esse tipo de esforço não venha a ser justificável no futuro

(Por John Platt, Scientific American Brasil, 15/01/2010)


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