Com uma rede energética conectada com os vizinhos Noruega, Suécia e Alemanha, o país conseguiu a segurança necessária para ter o maior percentual de consumo elétrico do mundo vindo de turbinas eólicas em terra firme e em alto mar
Durante nossa visita a Copenhague para a cobertura da Conferência do Clima da ONU em dezembro, a CarbonoBrasil conheceu alternativas de sucesso para a produção de eletricidade e aquecimento com baixas emissões de carbono. Nesta primeira reportagem você irá saber como a Dinamarca conseguiu ser a líder mundial na participação de eólicas no consumo elétrico.
Na próxima semana, traremos uma reportagem sobre a produção de aquecimento para os edifícios a partir da queima da biomassa vinda de rejeitos agrícolas. Confira abaixo a reportagem:
Na proa do barco, não é fácil agüentar o vento gelado que corta a pele em uma tarde nublada de dezembro. Porém, é justamente a força dos ventos abundantes na Dinamarca que fazem com que o país seja o primeiro do mundo a ter mais de 20% da sua geração elétrica vinda da energia eólica.
Em menos de uma hora chegamos aos pés das 20 turbinas que formam o parque Middelgrundend, no Mar Báltico. Com 64 metros de altura e um rotor de 76 metros, cada uma destas gigantes tem capacidade de 2MW. Dispostas levemente em curva, elas se estendem por cerca de 3,4 quilômetros, mantendo uma distância de 180 metros entre elas.
Para mantê-las firmes e seguras, primeiro é feita a fundação que prepara o fundo do mar para recebê-las. Construídas todas em solo, elas são montadas em alto mar, quando a estrutura de rotor e hélice é integrada a torre. O parque, um dos maiores já construído, produz 89.000.000 kWh por ano, energia que é recebida por 40 mil famílias, o que representa 3% da eletricidade consumida por Copenhague, capital do país.
Ao todo, a Dinamarca possui 5500 turbinas como estas, sendo porém a grande maioria (mais de 4 mil) em solo. Com uma capacidade total chegando a quase 4.000 MW, o maior desafio foi integrar gradualmente esta nova fonte a rede de forma a garantir a segurança energética do país. Ou seja, era preciso resolver o que fazer com a energia produzida quando houvesse muito vento, e, onde obtê-la quando ele não aparecesse.
“Se você já tem uma rede forte é mais fácil integrar uma nova fonte”, afirma o vice-diretor da Associação de Indústrias de Energia Eólica da Dinamarca, Jakob Lau Holst.
E é justamente isto que o país possui: uma rede forte conectada com os vizinhos Noruega, Suécia e Alemanha. “Temos um mercado maior desta maneira, com diversas tecnologias que podem ser empregadas dando mais segurança no fornecimento de energia. Para dar segurança a eólica, usamos a hidroeletricidade da Noruega e Suécia como complementar e usinas de gás e carvão na Dinamarca quando não há vento ou ele não é suficiente”, explica.
Tudo é monitorado por um grande e bem equipado centro de controle, com funcionários que observam atentamente, minuto a minuto, as condições climáticas, exportando energia quando há vento e importando, ou ativando usinas de carvão ou gás, quando há escassez.
Emissões
Segundo Holst, usando a energia eólica se evita a emissão de 660 gramas de dióxido de carbono (CO2) por kWh, que é a quantidade emitida por usinas a carvão, sem ter que pagar mais por isso. “Usinas em alto mar são caras, mas no solo temos muitos exemplos de projetos que produzem eletricidade a um preço comparável ou até menor que usinas a carvão aqui na Europa e nos Estados Unidos”, diz.
E o país está decidido a manter o rumo de baixas emissões de carbono. Em 2050, a Dinamarca quer ter 50% da energia consumida vinda dos ventos. Com uma grande costa, a maior parte da expansão será com turbinas em alto mar, com planos de que este tipo represente 1/3 da energia eólica produzida em 2020.
Para garantir o armazenamento da energia, uma das maiores dificuldades hoje, os dinamarqueses estão aumentando a frota de carros elétricos, que guardariam esta energia em suas baterias.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 15/01/2010)