Cerca de 100 integrantes da chamada Associação Brasileira do Uso Social da Terra (Abust) invadiram, no final da tarde de ontem, a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (Feena), em Rio Claro, a 172 km de São Paulo. Os invasores, na maioria dissidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e procedente de cinco acampamentos da região, montaram barracos na área de aceiro - faixa de proteção contra queimadas - dentro dos limites da propriedade.
O antigo Horto Florestal, criado em 1909 e transformado em floresta estadual em 2002, é considerado o berço do eucalipto no Brasil e tem o maior banco genético dessa espécie no País. A casa-sede foi tombada pelo patrimônio histórico estadual. A unidade de conservação é administrada pela Fundação Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Os sem-terra querem que 70% da área total, de 2.230 hectares, sejam destinados ao assentamento das famílias. De acordo com o porta-voz que se identificou como Luiz, o grupo quer que representantes do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e da superintendência estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) compareçam ao local para negociar as terras que não estão sendo utilizadas.
"Soubemos que os hortos florestais estão à disposição do governo para fazer a reforma agrária e queremos um pedaço para as famílias." O acampamento foi montado na parte da floresta que faz divisa com os canaviais da Usina Iracema. O local é de acesso difícil por causa das chuvas. O líder disse que a ocupação foi pacífica e sem danos à propriedade. O movimento é novo e está em processo de organização, segundo ele.
Área protegida
O diretor executivo da Fundação Florestal, José Amaral Wagner Neto, disse que a unidade de conservação é protegida por leis estaduais e federais e não pode ter destinação diferente daquela prevista no plano de manejo, que é o uso sustentável para pesquisa, turismo e preservação da biodiversidade. "Amanhã vamos tomar as providências judiciais para que aquelas pessoas deixem o local." Segundo ele, para evitar que a invasão se estenda a outras áreas, a segurança foi reforçada pela Polícia Ambiental.
A Prefeitura de Rio Claro destacou homens da Guarda Municipal para auxiliar na vigilância. Moradores que integram a Associação Amigos do Horto também se dirigiram para o local.
A assessoria de imprensa Itesp informou que não há qualquer tratativa entre o órgão estadual e o Incra sobre a possibilidade de instalação de assentamento na área do horto. O grupo responsável pela ocupação não é conhecido do Itesp. O órgão informou ainda que as providências para preservação da unidade de conservação de Rio Claro estão sendo adotadas pela Polícia Ambiental e pela Fundação Florestal. A reportagem não conseguiu contato com o Incra estadual.
(Por José Maria Tomazela, Estadao.com.br, 17/01/2010)