Mineradora negocia ativos que incluem 42,3% da Fosfertil, uma das maiores do setor, e diz que pode gastar até R$ 6,7 bi
A Vale anunciou que negocia a compra dos ativos do grupo norte-americano Bunge na área de fertilizantes no Brasil, inclusive a participação de 42,3% da empresa na Fosfertil, uma das líderes do setor no país. A mineradora brasileira diz estar disposta a desembolsar até US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 6,7 bilhões).
Além da Fosfertil, a Vale pretende adquirir minas de fosfato e unidades de produção de fertilizantes à base de fósforo (fosfatados) e de nitrogênio (nitrato de amônio e ureia). A Fosfertil é a única empresa privada do país a produzir fertilizantes nitrogenados, fabricados também pela Petrobras.
O entrada da Vale na área de fertilizantes tem dois objetivos, segundo analistas. De um lado, satisfazer o governo, que pressiona a companhia a investir mais no Brasil e a diversificar seus negócios para além da mineração. De outro, atende à própria estratégia de ser menos dependente da siderurgia, ramo para o qual focou a venda de seus principais produtos (minério de ferro, níquel e, mais recentemente, carvão).
Para crescer no setor, a própria Vale havia informado que lançaria mão tanto de aquisições como de investimentos em novos projetos. Segundo Pedro Galdi, analista da corretora SLW, investir em fertilizantes é "um bom negócio para a Vale", mesmo que a mineradora possa ter sofrido pressão do governo.
Isso porque, diz Galdi, a mineradora poderá sofrer menos com crises como a que começou em setembro de 2008, que derrubou a produção global de aço. E poderá diversificar seus mercados, pois hoje ela é fortemente voltada à exportação para a China -que amplia rapidamente sua produção de aço. "A diversificação é importante. Abrirá novos mercados para a Vale. E o mercado de fertilizantes no Brasil é muito promissor", diz o analista.
O governo fez pressão para a Vale investir em fertilizantes em razão da forte dependência de importações do país -cerca de 70% do consumo brasileiro é suprido pelo mercado externo. Esse é o principal gargalo identificado pelo governo para o avanço do agronegócio no país.
Há dois anos, investigação do Ministério da Agricultura apontou que a Bunge e outras duas multinacionais, a Yara e a Mosaic, haviam montado um oligopólio em fertilizantes no país, para controlar os preços. À época, a Bunge negou a prática e disse que o estudo continha erros. As outras duas companhias não se manifestaram.
Hoje, a Vale tem atuação discreta no setor: opera apenas uma mina de potássio em Sergipe, que "herdou" de uma extinta subsidiária da Petrobras. Em seu plano de investimentos, porém, a Vale desenvolve quatro reservas de potássio (uma no Brasil, duas na Argentina e uma no Canadá), além de três de fosfato (duas no Peru e uma em Moçambique).
O projeto mais adiantado é o da mina de fosfato de Bayóvar, no Peru, prevista para iniciar produção no segundo semestre deste ano. O investimento estimado é de US$ 479 milhões. Em seguida, vem a de potássio de Rio Colorado, na Argentina. Projetada para 2013, receberá aporte de US$ 4,1 bilhões.
Se concretizada a compra dos negócios de fertilizantes da Bunge, a Vale terá as marcas e unidades de produção de IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana. Já a Bunge focará sua atuação na área de alimentos. A empresa é uma das principais processadoras de soja do país. Produz óleos, margarinas e maioneses. Suas principais marcas são Delícia, Primor e Soya.
(Por Pedro Soares, Folha Online, 16/01/2010)