Cerca de 7.000 pessoas que morreram no terremoto de terça-feira no Haiti já foram enterradas em vala comum, disse o presidente do país caribenho, René Préval, nesta quinta-feira.
"Já enterramos 7.000 em uma vala comum", disse Préval a repórteres no aeroporto da capital, Porto Príncipe, enquanto acompanhava o presidente dominicano Leonel Fernández, o primeiro chefe de Estado a visitar o Haiti depois do devastador terremoto.
Hoje, a Cruz Vermelha no Haiti disse esperar que o total de mortos fique entre 45 mil e 50 mil, além dos mais de 3 milhões de desabrigados. Ontem, o próprio Préval disse ter ouvido estimativas de cerca de 50 mil mortos, porém afirmou que era "muito cedo para saber".
Segundo a correspondente da Folha em Genebra, Luciana Coelho, a logística para retirar os milhares de corpos das vítimas do terremoto é um dos grandes desafios neste momento no Haiti. "Em situações assim, cadáveres se amontoando nas ruas só pioram o risco de epidemias e das consequências da tragédia serem ainda mais graves", comenta a jornalista neste podcast.
Na tarde de hoje, ao menos 1.500 corpos estavam empilhados dentro e fora do necrotério do hospital geral de Porto Príncipe, e caminhonetes continuam a ser usadas para transportar as vítimas do terremoto, o que indicava que o número poderia aumentar. "Não posso dizer quantos corpos serão trazidos para cá", disse o diretor do hospital, Guy LaRoche.
Ainda há muitos corpos que continuam nas ruas, a maioria coberta apenas por panos brancos sob um calor de 27ºC. Algumas pessoas enterravam seus parentes em covas rasas nas margens de uma estrada. Uma mulher foi amarrada a uma tábua e coberta com um lençol antes do enterro, enquanto fogueiras eram acesas para afastar moscas.
Outros tentaram enterrar seus parentes nas encostas, o que não foi recomendado pelos militares brasileiros --que lideram a missão de paz da ONU no país-- porque os corpos poderiam ficar expostos após a ocorrência de chuvas.
Cemitério
Para tentar reduzir o problema, o Ministério da Defesa brasileiro propôs ao Haiti que seja criado um cemitério para o enterro rápido das vítimas. "Há uma grande preocupação com a existência de cadáveres abandonados nas ruas, o que pode provocar epidemias", apontou o Ministério da Defesa brasileiro em nota.
Por isso, o Brasil "proporá ao governo do Haiti que indique uma área para instalar um cemitério, para que os técnicos brasileiros ajudem com os enterros", acrescenta a nota.
O Ministério da Defesa ainda garantiu que será tomado um cuidado especial com o enterro de pessoas praticantes do vodu, "uma religião com forte presença do Haiti". Segundo as tradições desta crença religiosa, o corpo só pode ser tocado para fazer o enterro após concluído os rituais.
O projeto do cemitério está dentro do "Plano de Emergência" que o Brasil --que comanda as tropas da ONU no Haiti-- lançou hoje em Porto Príncipe. O plano será coordenado pelo ministro Nelson Jobim, que está no Haiti desde ontem.
Tragédia
O terremoto, que alcançou magnitude 7, segundo medição do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), devastou muitos prédios da capital Porto Príncipe --incluindo o Palácio Presidencial e a casa do presidente, René Préval.
Entre os brasileiros, o Comando do Exército confirmou na manhã desta quinta-feira a morte de 14 militares da Minustah, a missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti, da qual fazem parte 1.266 militares brasileiros. Outros quatro estão desaparecidos sob os escombros do Hotel Cristopher, base da ONU em Porto Príncipe, que ficou destruído.
Conforme o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, excetuando os brasileiros, morreram, no prédio da ONU, três jordanianos, um argentino e um chadiano.
A lista de vítimas brasileiras inclui também a médica pediatra e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Ela estava em Porto Príncipe para uma missão humanitária e faria uma palestra nesta quarta-feira (13). Segundo Rubens Arns Neumann, um dos filhos de Zilda, ela estava discursando em uma igreja no momento do terremoto.
(Folha Online, 14/01/2010)