Os moradores da Chapada do Á estão insatisfeitos com a instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu, em Anchieta, pela Vale. Em reunião com a mineradora na última terça (12), os moradores relataram o descaso com a população, que terá de deixar a região para a instalação do empreendimento. Segundo eles, os impactos do empreendimento não são discutidos e, em reunião, a Vale somente fala sobre a geração de empregos e a importância do desenvolvimento para a região.
“Somos uma comunidade de quase trezentos moradores, trabalhamos na cata do caranguejo e estamos na mira da empresa. Está indo muita gente lá olhar, pressionar, e tudo é feito sem a gente saber direito o que está acontecendo. Estamos com receio de tudo isso”, ressaltou um catador de caranguejo que mora na Chapada do Á e teme se identificar.
Segundo o advogado Nelson Aguiar, que acompanhou a reunião, o que se vê é uma população desconfiada por falta de informação e desamparada por parte do poder público. “O mundo todo orienta que grandes empreendimentos poluidores, inclusive siderúrgicas, não sejam construídos em centros urbanos ou próximos a recursos hídricos. Isso tudo está aqui. Além da população, sofrerá o meio ambiente. A restinga, por exemplo, e tuda a sua biodiversidade serão as primeiras a serem atingidas”, ressaltou ele.
O advogado informa que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) já foi entregue ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), mas durantes as reuniões com a comunidade nada é falado. “Eles só falam que vão gerar empregos, que o desenvolvimento vai ser bom para o município, que vai gerar renda etc. Estão levando na conversa mole. A população não quer sair!”, disse Nelson Aguiar.
Aguiar lembra que a apresentação do estudo à população é prevista por lei, mas até agora só se faou sobre a localização do empreendimento.
A maior preocupação da comunidade, além do “despejo”, é sobre como a empresa utilizará a água. Teme-se que o rio Benevente seja represado e, assim, dizem eles, todo o meio ambiente da região será afetado.
Segundo o Grupo de Apoio e Proteção ao Meio Ambiente (Gama), a manifestação da sociedade à Vale e ao Instituto Ideas que irá realizar o estudo do perfil socioeconômico da comunidade local foi contrária à instalação do empreendimento.
Segundo o Gama, também se manifestaram contra o empreendimento o advogado Nelson Aguiar e o pastor Enoque, presidente da Associação de Pastores da Grande Vitória, a diretoria da Rede Comuna Verde, a Associação de Catadores de Caranguejo, a Associação de Moradores da Chapada do Á e o própria ONG ambientalista Gama.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 13/01/2010)