O Parque Eólico de Osório reserva surpresas mesmo para quem não é especialista em energia limpa. Pontilhado de aerogeradores (ou cata-ventos, como preferir), o local é uma alternativa para quem dispensa o bronzeado na praia.
Olha, você pode não entender nada de energia limpa, nem dar bola para o ambiente, se interessar menos ainda pela necessidade de abastecimento elétrico da sua cidade e, mesmo assim, garanto: você vai rever seus conceitos. Dê um pulinho no Parque Eólico de Osório para ver.
Sério, o lugar é incrível.
Para começar, assistir ao balé de 75 aerogeradores de 135 metros de altura cada (quando a pá está apontada para o céu) já é algo diferente. A observação se dá à distância, com direito a banquinhos em um recuo construído na lateral da estrada (RST-101) e no Morro da Borússia, onde acaba de ser inaugurado um mirante. Mas o privilégio de circular pelo parque e ver os cata-ventos assim, coladinhos, é único.
Estilo Próprio está na praia, mas não quer se bronzear. Resolveu passear por lugares alternativos. E por que não visitar os cata-ventos de Osório?
Quem nos recebeu foi Telmo Magadan, presidente da Ventos do Sul, empresa criada para implantar o parque. O trajeto até o prédio da subestação de energia e torre de comando é feito por uma estradinha entre bois, lavouras de arroz e milho. São terras de 15 propriedades privadas, totalizando 3 mil hectares. É um acordo de cessão de uso – ou seja, os administradores dos aerogeradores pagam uma taxa mensal para rodarem no terreno. Precisa, claro, ventar com vontade para eles trabalharem a pleno, mas o equipamento começa a gerar energia já a partir de ventos de 8 km/h.
Os aerogeradores – nome técnico, prefiro o fantasia mesmo, ca-ta-ven-tos – são beeeem maiores de perto, podem ser comparados a um prédio de 45 andares. Na base, a pintura é em dégradé verde para se integrar com a paisagem. As pontas dos flaps (eles mexem como os dos aviões) são vermelhas e até 15 de janeiro alguns cata-ventos estarão iluminados devido à decoração de fim de ano. O parque tem capacidade de abastecer o consumo médio anual de metade da população de uma Porto Alegre. Cada cata-vento pesa 1.750 toneladas e a fixação se dá por meio de 32 estacas enterradas a 36 metros de profundidade.
– Há uma preocupação grande de coerência com o conceito de energia limpa em toda essa área. Temos até horta orgânica – explica Telmo, apontando para uma área de preservação ambiental, com espécies catalogadas e identificadas com placas.
É justamente neste caminho que se deu a surpresa maior, e não falo mais dos cata-ventos. O mais impressionante foi se enfronhar pela vegetação nativa e encontrar um imponente prédio de arquitetura contemporânea escondido em Osório.
É o Centro Institucional do parque, localizado num dos pontos mais altos, projeto que mesmo uma cidade como Porto Alegre ainda não viu. É contemporaneidade em todos os detalhes – uma caixa de concreto, com partes revestidas em madeira, cujos rasgos das janelas proporcionam molduras para as vistas da região. Obra de um coletivo de profissionais de Bilbao (Espanha) é, sem dúvida, mesmo escondidinha, referência para o Estado. Os telhados são ecológicos, a ambientação minimalista e os janelões de vidro que complementam um avarandado é ideia para se copiar sem pena, na cara dura mesmo.
– Todas estas pinturas da cerâmica da entrada e nos painéis da sala foram feitas pelo artista espanhol Peteiro. Ele morou aqui por quatro meses – contou Telmo.
Com o show de arquitetura, fim do tour exclusivo. Visitações com agendamento antecipado são permitidas no parque para escolas e universidades. Mas admirar os caprichos dos ventos dos pontos de observação já é um programa. Leve a máquina, você vai tirar boas fotos.
E aguarde. Em breve, Palmares do Sul ganhará um parque com 15 cata-ventos. Tomara que o prédio dos arquitetos de Bilbao ganhe um irmão.
(Por Fernanda Zaffari, Zero Hora, 13/01/2010)