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cop/unfccc Greenpeace
2010-01-13 | Julianaf

O diretor do Greenpeace lembra seus 21 dias de prisão na Dinamarca

A cela número 5 dos "presos do clima" na velha prisão de Vestre Faengsel, em Copenhague, é um quarto estreito e com seis ou sete passos de comprimento; passos lentos para não chegar rápido demais ao fundo. São os que dava para um lado e para outro Juan López de Uralde, diretor-executivo do Greenpeace Espanha, libertado na última quarta-feira depois de 21 dias detido. O delito? Penetrar, vestindo um smoking, no jantar de gala oferecido pela rainha Margarida 2ª no Palácio de Christiansborg, durante a Cúpula do Clima, e mostrar um cartaz com o slogan: "Os políticos falam, os líderes agem".

Essa cela, com uma grossa porta metálica, fica em uma galeria de quatro andares na qual até o início do ano quase todos os presos tinham sido detidos em protestos durante a cúpula. Situa-se no andar térreo, na fileira de portas do lado direito, ao fundo. Um pouco mais afastada das outras no mesmo andar, nas quais estiveram presos os outros três ativistas do Greenpeace que puseram em evidência as forças de segurança dinamarquesas na recepção da rainha Margarida 2ª. A norueguesa Nora Christiansen, que irrompeu com um vestido de noite vermelho, foi colocada na cela 27; o suíço Christian Schmutz, que atuou como guarda-costas, na 36; e o holandês Joris Thijssen, responsável por mudança climática no Greenpeace Internacional, que detiveram um dia depois, na 26.

López de Uralde foi o primeiro a se surpreender quando sua limusine, com um letreiro no parabrisa que o identificava como "chefe de Estado do Greenpeace em nome da Mãe Terra", passou pelos controles em direção ao palácio. "Entramos de pura sorte, porque aconteceram muitas casualidades; não tínhamos batedor com moto, mas justamente nesse dia haviam retirado as motos dos carros oficiais", conta o ecologista espanhol, que confundiram com o presidente da Geórgia. Lembra como um pesadelo as horas seguintes a sua detenção em 17 de dezembro à noite até entrar na prisão no final do dia 18.

Primeiro os levaram para jaulas portáteis montadas expressamente pela polícia dinamarquesa no subúrbio de Valby para os protestos durante a cúpula, batizado como o "Guantánamo do clima", aonde foram parar muitos presos de forma preventiva (entre eles 22 espanhóis, segundo a Embaixada da Espanha em Copenhague) e depois a uma delegacia, na qual os ecologistas tiveram de passar 20 horas isolados em um quarto com um colchonete no chão, uma luz sempre acesa e uma câmera de vigilância. "Era um canil, e depois nos meteram no buraco. Eu ainda vestia o smoking, e, ingênuo, disse à polícia que a luz devia estar quebrada."

Foi depois que entraram nas celas de Vestre Faengsel em prisão preventiva, para dar tempo de a polícia investigar seu envolvimento em três acusações: suplantação de personalidade pública, falsificação de placas de licença e invasão de domicílio (os mesmos com que foram libertados na última quarta-feira). As horas anteriores haviam sido tão duras que López de Uralde pensou que o quarto em que acabava de entrar não poderia ser sua cela. Tinha a sua frente um quarto com um lavabo e um sofá-cama na parede esquerda, uma pequena geladeira, um armário e uma cômoda com uma pequena televisão e um rádio à direita. Além disso, no fundo podia abrir uma janela com grades que dava para o pátio.

A porta dessa cela passaria fechada a maior parte do tempo. Se quisesse ir ao banheiro, tinha de apertar uma campainha e esperar que a abrissem. "Na cela você pensa, vê televisão, lê um livro, ouve música, faz passeios; faz tudo muito devagar para que o tempo passe", comenta o diretor do Greenpeace Espanha. "Se você pede que o deixem sair para tomar banho, vai quase andando para trás para ver se encontra alguma cela aberta, pois embora sempre estejam fechadas talvez tenha sorte e veja alguém."

Todas as manhãs um guarda passava com um carrinho com o desjejum. Sempre o mesmo: chá e pão de fôrma com uma fatia de queijo, e nos domingos café e um bolo. É o momento em que se pergunta aos reclusos se vão querer sair para tomar banho, limpar a cela ou lavar roupa. Quando López de Uralde pedia para fazer seu quarto, passava o mais lentamente possível a vassoura e o pano, aproveitando que enquanto isso a porta ficaria aberta. O mais duro na prisão é a solidão. Os quatro do Greenpeace não foram encarcerados em regime de isolamento, mas estavam submetidos a um rígido controle de correspondência e visitas, conforme os artigos 771 e 772 da Lei de Julgamento Civil e Criminoso da Dinamarca. Isso implicava não ter contatos com sua família ou com o exterior, exceto as reuniões com seus advogados, que se limitavam a comentar o processo judicial. "Foi o pior, não poder falar com a família, não poder explicar a seus filhos o que aconteceu, mas também não saber o que estava acontecendo", conta o ecologista, que tem dois filhos. Isso foi o mais difícil, porque você não entende nada, não entende por que está lá."

Quase tudo o que sabiam do exterior chegava pela televisão ou o rádio, mas a maior parte era em dinamarquês. A ativista norueguesa Nora Christiansen, casada com o diretor-executivo do Greenpeace Dinamarca, Mads Christiansen, era quem costumava traduzir as notícias do que tinha escutado pelo rádio, quando podiam se unir na hora do pátio, das 10 às 11, ou em turnos de "vida social", de 14 a 16 e de 18 a 20 horas, nos quais os reclusos podiam escolher outros dois companheiros para se reunir em uma cela. Foi assim que no sexto dia Nora contou ao espanhol que 300 pessoas estavam protestando na Embaixada da Dinamarca em Madri pedindo sua libertação. "Comecei a saber o que estavam montando por isso, e porque alguns dias depois um preso perguntou gritando da cela para o pátio quem de nós era o das 50 mil assinaturas [recolhidas pelo Greenpeace na Espanha exigindo o fim de sua prisão]".

Fora os quatro amigos do Greenpeace, Juancho (López de Uralde), Nora, Christian e Joris também se revezaram em suas horas de "vida social" com Luca, um ativista italiano da cela 25, acusado de atirar garrafas em um protesto em Christiania. No final do ano a prisão foi se esvaziando de "presos do clima" e Nora se transformou na única mulher na galeria. "Tratavam mal a coitada, mas embora houvesse salas para mulheres ela quis ficar. Creio que esse foi o único gesto um pouco humano que tiveram conosco: permitir que Nora ficasse", afirma o dirigente ecologista. Embora antes já convivessem com alguns presos comuns, as celas começaram a se encher outra vez deles de forma maciça com o novo ano. As coisas mudaram, pois foi então que conheceram de verdade um ambiente carcerário.

López de Uralde conheceu um chileno que o ajudava a se entender com os guardas em inglês. "Perguntei a ele por que estava preso e me disse que por um assunto em uma joalheria, e não voltei a fazer perguntas." Mas sobretudo com Jim, um marroquino-dinamarquês acusado de tráfico de drogas, que foi quem os introduziu ao submundo da prisão. "Ele nos ajudou muito a entender. Nos mostrou que na prisão não é preciso ter esperanças, porque logo você se desespera. E tem de viver o dia-a-dia e não pensar que vai mudar nada. E era verdade. Os piores dias foram os do princípio, quando tínhamos esperança, como o dia em que os advogados apresentaram o recurso. Se você perde, mergulha na miséria."

No terceiro dia de prisão, o dirigente ecologista recebeu pela manhã uma visita inesperada. Era Juan Suñé, encarregado de negócios da Embaixada da Espanha em Copenhague, que como logo também faria o cônsul da Espanha, Nuño Bordallo, visitaram de forma regular o diretor do Greenpeace. Ambos encontraram um López de Uralde bastante animado, mas muito aborrecido pelas limitações de contato com o exterior. Ao todo foram seis as visitas permitidas, nas quais falaram de tudo, seis visitas que López de Uralde agradeceu com um sentido abraço a Bordallo ao despedir-se no aeroporto de Copenhague, na volta a Madri.

"Essas visitas foram muito importantes para mim", afirma. As gestões da embaixada também foram chaves para que nos últimos dias se permitisse que o ecologista fosse visitado por sua mulher e seu irmão, embora acompanhados de um policial e uma tradutora que os interrompia sempre que falavam sobre o caso.

Essa visita de sua família ocorreu apenas 48 horas depois da visita judicial em que seria decidido se os quatro do Greenpeace continuariam presos. Esse mesmo dia, terça-feira, foi também quando a polícia dinamarquesa os interrogou pela primeira vez desde sua detenção. Os quatro temiam a visita judicial, mas esta não veio. Justo na véspera, quarta-feira, ouviram seu advogado dizer por telefone que seriam libertados. Depois de 21 dias detidos, saíram à rua.

(Por Clemente Álvarez, El País / UOL, 12/01/2010)

*Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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