Ao pensar em escrever sobre essa temática, não posso deixar de fora as reflexões que o filósofo Félix Guattari expôs no final dos anos 1980. Os textos do Guattari passeiam sobre conceitos sociais, explana sobre a possibilidade de nossa sociedade vivenciar uma profunda crise de valores, uma verdadeira crise civilizatória. No caso específico dos transgênicos, o debate é longo e cansativo, determinado por um conjunto de interesses econômicos e políticos e, também, pela falta de capacidade de circularmos informações verdadeiras sobre os seus benefícios e conseqüências.
Este cenário, no caso dos pesticidas, é constituído da seguinte maneira: de um lado os interesses dos fabricantes, a expectativa do lucro. De outro, a promessa de se reduzir a quantidade de herbicidas, controlar as pragas das plantações e promover maior produção agrícola; completam este jogo, as pessoas contaminadas por componentes do pesticida como o glifosato, que estão surgindo em número cada vez maior.
Sim, não se assustem! Existem pessoas em diversos lugares do globo contaminadas pelos pesticidas utilizados nas mais diversas plantações transgênicas. Das várias preocupações que cercam os alimentos transgênicos, os efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana são algumas das principais. Podemos, portanto, sinalizar algumas destas incertezas: perda de biodiversidade, eliminação de espécies nativas, surgimento de “super ervas-daninhas”, resistência de insetos a pesticidas. Os pesticidas se dividem basicamente em três categorias, sendo o glifosato um herbicida, e além desta existem ainda os inseticidas e os fungicidas.
Ao ler um jornal diário essa semana, me deparei com a seguinte notícia: soja da Monsanto abre espaço para herbicida da Bayer. O que há de estranho nisso? Até então, nada! Eis a questão, portanto! Os transgênicos surgiram como a promessa de combate as pragas das lavouras, algo forte e insuperável. Um instrumento da biotecnologia que preservaria os interesses humanos ao máximo. Mas agora a coisa não está assim. O surgimento de ervas daninhas resistentes ao agrotóxico usado na soja transgênica (Roundup Ready) fará a Bayer triplicar as vendas do seu herbicida LibertyLink em 2010.
Que mal há nisso? Econômico, nenhum. O impressionante é o fato de que já estamos identificando resistências aos herbicidas utilizados pelos OGM’s. Para combatê-los, a partir de agora teremos que utilizar mecanismos e químicos cada vez mais fortes. Por mais que o LibertyLink, composto de gluufosinato de anônia, esteja tomando o mercado agora, ainda é, infelizmente, desconhecido os seus efeitos à saúde humana. Bem como, os efeitos dos organismos geneticamente modificados. Talvez o mal não esteja necessariamente na modificação genética, mas sim nos químicos utilizados para provocar a sua resistência. Falta um controle mais rígido a estes produtos. Não faltam exemplos de contaminação e, agora, de resistência a estes produtos.
Abaixo explico um pouco o porquê desta preocupação.
Gifosato
O gligosato (N-(fosfonometil) glicina, C3H8NO5P) é um herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta) desenvolvido para matar ervas, principalmente perenes. É o ingrediente principal do Roundup, herbicida da Monsanto. Muitas plantas culturais geneticamente modificadas são simplesmente modifica as para resistir ao glifosato. A Monsanto vende sementes dessas plantas com a marcar Roundup Ready. Vale lembrar que o herbicida é absorvido pelas folhas das plantas, não por suas raízes.
Em 1991, começou a ser vendida a soja geneticamente modificada. Em 2004, o glifosato era utulizado em 80% das plantações de soja dos EUA para eliminar ervas.
Desde 2008, uma grande discussão sobre os males do herbicida à saúde humana tomou a agenda de diversos pesquisadores na Argentina. Uma pesquisa do Grupo Reflexão Rural mostra que, atualmente, são 18 milhões de hectares semeados com soja transgênica, o que consome entre 180 e 200 milhões de litros de glifosato por ano. Os dados são do documento “Povos Fumigados” e fazem parte da campanha “Parem de Fumigar”.
Na Argentina, o uso massivo do glifosato provocou a aparição de resistência, levando a um aumento progressivo das doses usadas e, assim, a uma desvitalização e perda de fertilidade do solo. O herbicida elimina também as bactérias indispensáveis à regeneração do solo. Ressalto que a Monsanto vende o Roundup Ready sob a ótica de que ele se junta ao solo, ajudando no seu fortalecimento. Dá para acreditar?
Há índicos de que o glofosato tenha efeitos nocivos sobre a saúde humana, como o aumento da incidência de certos tipos de câncer e alterações do feto por via placentária. Um dos primeiros pesquisadores a apontar para isso foi o Andre Carrasco, professore de embriologia da UBA (Argentina) e principal pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) e direto do Laboratório de Embriologia Molecular.
O glifosato foi considerado um disruptor endócrino pelo professores Walsh, 2000, e Richard, 2005. Ambos os pesquisadores, após pesquisas *in vitro,*demonstraram que o glifosato reduz a produção de progesterona em células de mamíferos
Curiosidades
Conforme publicado pelo Northwest Coalition for Alternatives to Pesticides (NCAP), o glifosato tem sido utilizado em áreas cada vez maiores, incluindo-se as áreas florestais e vários tipos de plantações como a soja, por exemplo. O NCAP relata que durante uma reunião para tratar do assunto, o gerente de um dos maiores plantadores florestais no Brasil, a Aracruz Celulose, defendeu o uso do glifosato ao dizer que “o glifosato é menos perigoso que o sal de mesa”. Ao ouvir isso, o líder da Sinticel - Sindicato de Trabalhadores da Companhia - se ofereceu em seguida para beber ali mesmo um enorme jarro de água com sal de mesa a cada pequeno frasco de glifosato que o gerente tomasse, ao que este se recusou.
No Brasil, qualquer empresa (pública ou privada) que queira pesquisar, cultivar ou comercializar transgênicos, deve atender às exigências de cinco órgãos: a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
(Por Efraim Neto, Mercado Ético, 12/01/2010)