A ameaça que paira sobre os recifes do mundo significa não só o sumiço de espécies hoje, mas uma possibilidade considerável de que, no futuro, não apareçam novas espécies capazes de substituí-las.
Ao destruir esses habitats riquíssimos, portanto, "estamos colocando em risco a criação de futuras espécies", declarou à Folha o coordenador do estudo, Wolfgang Kiessling, da Universidade Humboldt em Berlim.
"A recuperação da atual crise de biodiversidade vai demorar muito mais sem os recifes", afirma Kiessling, que assina o estudo na edição desta semana da revista "Science" com colegas dos Estados Unidos.
A metodologia do trabalho não poderia ser mais simples. Usando um dos principais bancos de dados sobre espécies extintas do mundo, que vai do presente até a origem da vida animal (lá se vão mais de 550 milhões de anos), os cientistas esmiuçaram em que tipo de ambiente novos grupos de animais costumavam aparecer.
Rochas e rochas
Especular sobre isso é possível porque o tipo de rocha em que os restos da criatura foram preservados muitas vezes dá a pista sobre a natureza de seu finado habitat. A composição química e o aspecto de uma rocha formada em mar aberto é bem diferente da que se estruturou perto da praia.
A análise se concentrou nos invertebrados bentônicos, como são conhecidos os bichos que vivem grudados no leito do mar ou perto dele.
Entre esses, mais de um quinto dos gêneros (o grupo de seres vivos um pouco mais abrangente do que a espécie; o do homem, ou Homo sapiens, é o Homo) tem seu primeiro registro em recifes.
Os pesquisadores calculam que a chance de um gênero qualquer de animais aparecer em recifes é 45% maior do que em qualquer outro habitat marinho.
Como os gêneros, depois de algum tempo, dão as caras em ambientes costeiros sem recifes ou em mar aberto, os cientistas apostam que, além de usinas de espécies, os recifes também são exportadores.
(Por Reinaldo José Lopes, Folha Online, 08/01/2010)