Palácio presidencial e sede da ONU caíram após tremor nesta terça (12/01). Não há balanço oficial de vítimas, mas elas podem ser centenas
Um terremoto de magnitude 7 atingiu nesta terça-feira (12/01) o Haiti, destruindo vários prédios e causando devastação em todo o país da América Central. Não há confirmação oficial, mas, segundo testemunhas, o tremor pode ter deixado centenas de vítimas. Não há relatos até agora de vítimas brasileiras, segundo o embaixador no país.
O tremor ocorreu às 16h53 locais de terça-feira (12), ou 19h53 de Brasília, de acordo com o Centro de Estudos Geológicos dos EUA (USGS) , que monitora e estuda tremores de terra em todo o mundo.
Segundo Dale Grant, analista do USGC, este foi o terremoto mais forte já registrado na região. Antes, o mais intenso havia sido um tremor de 6,7 de magnitude em 1984.
Não há relatos totais de vítimas e feridos, mas a força do terremoto desta terça causou uma grande destruição, principalmente na capital, Porto Príncipe, onde vivem cerca de 2 milhões dos 10 milhões de habitantes do país. O palácio presidencial, igrejas, o prédio onde fica o Banco Mundial e dezenas de casas desabaram.
Cerca de 200 pessoas estariam sepultadas sob os escombros do hotel Le Montana, segundo o secretário francês da Cooperação, Alain Joyandet. Segundo o relato dele, 300 pessoas estavam no local, mas apenas 100 conseguiram sair. O hotel é um dos mais luxuosos do país. De acordo com Joyandet, há 1.400 franceses morando no país, 1.200 deles na capital.
ONU
O forte sismo e os abalos secundários destruíram o prédio da Organização das Nações Unidas (ONU) na capital, segundo um porta-voz da instituição, que disse que há vários funcionários desaparecidos.
O Brasil mantém militares em uma missão de paz da ONU na região há pouco mais de cinco anos. Segundo familiares de brasileiros em ação no país, os militares da missão da ONU estão bem. O governo brasileiro prestou solidariedade e disse que os militares estão ajudando nos trabalhos de resgate.
A imprensa oficial chinesa disse nesta quarta (13) que oito cidadãos do país membros das forças de paz da ONU foram sepultados pelo tremor, e 10 foram declarados desaparecidos. Há cerca de 125 chineses servindo no país
Relatos
De acordo com relato recebido do Encarregado de Negócios do Brasil em Porto Príncipe, Cláudio Campos, o prédio da Embaixada do Brasil sofreu sérios abalos, mas não houve vítimas entre os funcionários brasileiros.
Segundo testemunhas ouvidas pela agência France Presse, o centro de Porto Príncipe ficou completamente destruído. Segundo um médico local, há muitos mortos.
Em entrevista ao G1, um haitiano relatou que todos estavam com medo de voltar para dentro dos prédios na capital.
O correspondente da agência de notícias Reuters na capital disse que vários prédios em Porto Príncipe desabaram e que há vítimas. "Tudo começou a tremer e as pessoas começaram a gritar, casas e prédios caíram... está tudo um caos", disse Joseph Guyler Delva. "Vi pessoas soterradas e pessoas mortas", completou.
A porta-voz de um grupo de apoio católico no Haiti, Sara Fajardo, disse ter ouvido de um colega em Porto Príncipe dizer que o tremor pode ter deixado milhares de mortos. Segundo relatos de um correspondente da agência Associated Press, um hospital desabou em Petionville, e as pessoas ficaram desesperadas nas ruas.
O embaixador do Haiti nos Estados Unidos, Raymond Joseph, afirmou que o tremor é uma "catástrofe de enormes proporções". Ele disse que, apesar da destruição no palácio nacional, o presidente do país, René Preval, e a primeira-dama, Elisabeth Debrosse Delatour, passam bem após o tremor.
O norte-americano Luke Renner, fundador da ONG Hands Across Haiti, está em Cap Haitien, cerca de 57 quilômetros ao norte da capital Porto Príncipe, e falou por telefone ao G1.
Ele disse que sentiu o terremoto mas que na cidade não houve estragos. Ele afirmou que não está conseguindo contato com amigos na capital por telefone, mas que teve notícias de alguns deles pela internet dizendo que os estragos são “extensos” em Porto Príncipe.
Epicentro a 15 km da capital
O tremor foi registrado teve seu epicentro a apenas 15 quilômetros da capital Porto Príncipe, e seu foco foi a apenas 10 quilômetros de profundidade -o que explica seu forte impacto. Após uma primeira medição de magnitude 7, uma nova medição da agência americana chegou a apontar magnitude 7,3, mas o registro foi corrigido em seguida para 7.
Pelo menos dois fortes tremores secundários, um de 5,9 graus e outro de 5,5, foram registrados alguns quilômetros a sudoeste do forte terremoto, poucos minutos depois do primeiro sismo.
República Dominicana
O terremoto foi sentido também na República Dominicana, segundo autoridades locais (Assista no vídeo ao lado). "Em todos os lugares se sentiu efeitos do tremor", disse o diretor da Defesa Civil do país, alegando não ter registro de danos e feridos.
A República Dominicana é vizinha do Haiti na ilha de Hispaniola. "Estamos monitorando os lugares mais vulneráveis", disse o funcionário dominicano.
Funcionários do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba, em Santiago de Cuba, disseram também terem sentido o tremor. Segundo eles, não havia informação sobre danos, entretanto.
Alerta de tsunami retirado
Um alerta de tsunami chegou a ser emitido para as Bahamas, Cuba e para a República Dominicana. Os países chegaram a alertar as populações locais, mas logo o alerta de ondas gigantes foi levantado.
O Brasil comanda cerca de 7.000 soldados da força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, enviada ao país em 2004, e tem cerca de 1.300 homens na região. O Ministério da Defesa brasileiro informou não ter informações sobre se o terremoto teria afetado as forças brasileiras no país.
Ajuda
Pouco após o tremor, o Haiti lançou um apelo por ajuda internacional. A agência americana para o desenvolvimento internacional anunciou que está enviando uma equipe de resposta a desastres ao Haiti para ajudar na busca por vítimas e sobreviventes. Um grupo de 72 especialistas em resgate e seis cães treinados para buscas estão sendo enviados junto com 48 toneladas de equipamentos.
Pouco após o terremoto, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse estar acompanhando as notícias e que está "disposto a ajudar". Obama ordenou ao Departamento de Estado e ao Pentágono que preparem ajuda humanitária para, se necessário, enviar ao Haiti. "Estamos vigiando a situação estreitamente e estamos prontos para ajudar a população", disse Obama.
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse que o país vai oferecer ajuda militar e civil ao Haiti. "Os Estados Unidos estão oferecendo assitência completa ao Haiti e outros na região. Estaremos oferecendo tanto ajuda civil quanto militar e assistência humanitária, e nossas preces estão com o povo que sofreu, suas famílias e seus queridos", disse. O Comando Sul do Pentágono avalia a localização de seus navios no Caribe para uma possível missão de ajuda.
Os governos da França, da Colômbia e da Venezuela também já falaram em enviar ajuda ao país. O presidente Hugo Chávez ordenou o envio imediato de ajuda, assim como uma equipe de 50 especialistas em resgate de vítimas. O anúncio foi feito na noite de terça pelo ministro das Relações Exteriores venezuelano, Nicolás Maduro. Maduro disse que a ajuda será enviada "assim que amanhecer".
O enviado especial da ONU para o Haiti, o ex-presidente americano Bill Clinton, manifestou sua disposição de fazer "tudo o que for necessário" para ajudar o país. "Meus pensamentos e orações estão com o povo do Haiti", disse o ex-presidente em comunicado divulgado pela fundação que leva seu nome.
Já a porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), Stéphanie Bunker, disse que foram iniciados os preparativos para enviar a Porto Príncipe uma equipe da unidade de Coordenação e Avaliação de Desastres das Nações Unidas (Undac).
O Banco Interamericano para o Desenvolvimento anunciou a liberação imediata de US$ 200 mil para ajudar na reconstrução do que o terremoto destruiu.
A Suíça anunciou o envio imediato de uma equipe de intervenção de urgência para colaborar nos trabalhos de resgate.
Considerado o país mais pobre da América Latina segundo dados da CIA, o Haiti já sofre com as mortes provocadas por doenças como a Aids, além de problemas causados pela falta de saneamento básico. O país tem altos índices de mortalidade infantil e baixas taxas de crescimento populacional. Também está na rota de tempestades e furacões do Oceano Atlântico.
(G1, 13/01/2010)