O dia de hoje começa com danças e cantos dos índios Pankararu, Potiguara, Atikum, Pankará e Xavante que decidiram, por necessidade e por determinação, dormir debaixo das marquises da Funai, em Brasília.
Quem passa por lá e para para dar uma palavrinha os vê cantando e dançando, discutindo estratégias de luta a partir desta manhã. Sabem que a luta é dura e será renitente. Não vieram para passear em Brasília, dizem. A união com os demais índios presente é um objetivo essencial, e estão construindo essa união pela consciência, pela gentileza e pela visão de que estão juntos no mesmo barco.
Esperam que outros os venham juntar-se a eles. Esperam que a imprensa compreenda sua luta e sua visão. Esperam que a sociedade civil de Brasília os acompanhe e simpatize com sua causa. Esperam que o governo se sinta responsável pelo que fez e revogue o decreto de reestruturação e mude a Funai. Contam com a ajuda de alguns servidores e funcionários da Funai e lamentam que diversos estejam indiferentes à sua sorte.
Estão conscientes de que estão fazendo história. Que o indigenismo não será mais o mesmo depois de sua luta e depois de sua iminente vitória. Não aceitarão mais meias verdades, nem paternalismos, nem falsas promessas, nem opressão. Aqueles que se interpuserem em sua trajetória serão atropelados pelas mudanças que se farão no futuro próximo.
Não sei se a Funai, tal como a conhecemos agora, sobreviverá. Uma Funai revigorada, renovada se faz necessário. Uma Funai com o espírito original de Rondon, de respeito aos povos indígenas como nações autônomas que têm direito e condições de serem livres e auto-determinadas.
Acho que esta será a lição a ser tirada dessa luta que se travará nos próximos dias.
(Blog do Mércio, 12/01/2010)