Às vésperas da virada do ano, indígenas deixaram sua casa na Comunidade Guarani do Passo Grande, em Barra do Ribeiro, para visitar familiares em Porto Alegre e no próprio município. Quando voltaram, no primeiro dia de 2010, encontraram somente os pilares da moradia, que fora totalmente incendiada. Em meio aos resquícios de carvão, buscam respostas. A possibilidade de incêndio criminoso é investigada pelas polícias Civil e Federal e pelo Ministério Público Federal.
A indígena Rosalina Garai, de 57 anos, morava na casa com outras dez pessoas da família desde 2006. "Não temos energia elétrica e não deixamos fogo aceso", contou a guarani, buscando explicações para as chamas que consumiram todos os pertences, como utensílios domésticos, artesanais e roupas. Desde então, Rosalina e os filhos passaram a morar na casa de familiares, no mesmo terreno. "Ainda bem que essa não queimou", disse, ao lado de uma das filhas, Iracema, de 13 anos.
Chamou a atenção da comunidade o fato de uma televisão que estava dentro da casa ter sido encontrada nas margens do rio Passo Grande, a 10 metros da moradia incendiada. "Não queremos culpar ninguém. Mas tudo leva a crer que o fogo não foi um acidente", disse o cacique Mariano Garai, de 59 anos.
A moradia foi construída com recursos do governo estadual, por meio do programa RS Rural. Dias após o incêndio, o cacique comunicou o ocorrido à Secretaria Estadual da Agricultura. O técnico do órgão Ignácio Kunkel elaborou relatório que foi encaminhado ao Ministério Público Federal. "Pelos dados iniciais coletados dá para se deduzir que não foi um simples incêndio, pois não havia nenhuma propensão para isso", apontou Kunkel.
Na última semana, o cacique da comunidade foi até a Polícia Federal com o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) - Núcleo de Porto Alegre, João Maurício Farias. "Por se tratar de um suposto crime contra a etnia, encaminhamos o assunto para investigação da PF", informou Farias.
(Por Joana Colussi, Correio do Povo, 12/01/2010)