Objetivo é elevar quantidade de etanol no mercado para conter preços; distribuidores estimam que medida encarecerá gasolina
Percentual de álcool na gasolina cai de 25% para 20% em 1º de fevereiro; abastecer com o combustível deixa de ser vantagem em SP
O governo decidiu reduzir a quantidade de álcool misturada à gasolina de 25% para 20%. O objetivo é aumentar a quantidade do combustível renovável no mercado e, com isso, ao menos conter a alta de preço nos postos. A medida entra em vigor a partir de 1º de fevereiro e vale por 90 dias, até o início da safra de cana-de-açúcar.
A modificação produz dois efeitos colaterais: 1) os distribuidores estimam que haverá aumento do preço da gasolina, entre R$ 0,04 e R$ 0,05 por litro. Quanto menos álcool na gasolina, mais cara ela fica; na avaliação de técnicos do Ministério de Minas e Energia, haverá alta de 2% no preço do combustível. A Folha apurou que a Petrobras sugeriu ontem ao governo reduzir a alíquota da Cide (contribuição que incide sobre combustíveis) para compensar a elevação do valor cobrado dos consumidores.
2) os automóveis a gasolina emitirão mais monóxido de carbono, um gás que polui a atmosfera.
Na avaliação de técnicos do governo, o álcool vai parar de subir. O ministro Edson Lobão (Minas e Energia), no entanto, contradisse os técnicos de sua pasta ao afirmar que a expectativa do governo é que o preço da gasolina caia pela redução do índice de adição de álcool, já que esse último está caro.
"O objetivo será sempre [reduzir] na bomba, mas a intenção é que não haja desabastecimento e que os preços não continuem subindo", disse, acrescentando que a redução do álcool na gasolina deverá gerar economia de 100 milhões de litros do produto por mês.
O álcool produzido nas usinas tem dois destinos: o anidro (sem água) é usado na mistura com a gasolina. O hidratado é vendido nos postos para abastecer principalmente os carros flex. Agora, o anidro que deixar de ser misturado à gasolina será transformado em hidratado, o que eleva a oferta e, em tese, contém a alta de preço.
"O consumidor precisa se acostumar com o álcool como um combustível sazonal. Entre dezembro e março, é entressafra e o preço sobe", afirmou Alíseo Vaz, vice-presidente-executivo do Sindicom (Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes).
Na avaliação do executivo, o preço do álcool continuará subindo nos postos, mas em um ritmo menor. Ele não vê possibilidade de escassez. "Como o preço é liberado, o consumidor para de comprar se estiver caro. O produto continua à venda. Poderia haver escassez se houvesse um preço fixado."
Desvantagem
Desde o início do ano, já não é mais vantajoso abastecer com álcool em São Paulo. O biocombustível subiu, em média, 5,8% no Estado na primeira semana do mês, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo). Especialistas dizem que só é vantagem usar álcool quando o produto custa até 70% do valor da gasolina. Isso porque a gasolina rende mais -com ela, o carro roda mais quilômetros por litro.
Segundo a ANP, o preço do álcool subiu de R$ 1,670 por litro nas bombas dos postos paulistas, na semana iniciada em 27 de dezembro, para R$ 1,767 na que começou no dia 3. Com isso, a relação entre o custo da gasolina e do álcool ficou em 71,2%. Em alguns postos da capital paulista, o litro custa R$ 2.
Até a primeira semana de janeiro, de acordo com dados da ANP compilados pela Folha, em apenas sete Estados ainda compensava usar o álcool como combustível: Mato Grosso, Goiás, Pernambuco, Tocantins, Paraná, Bahia e Alagoas. Nos dois últimos, porém, a relação está no limite dos 70%.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) afirmou ontem, por meio de nota, que a redução da mistura do álcool anidro na gasolina deve respeitar o prazo de 90 dias. Para a entidade, é louvável o fato de o governo ter ouvido o setor e estabelecido um prazo para a vigência da medida.
Os preços do álcool sobem normalmente na entressafra da cana (dezembro a março) e diminuem a partir de abril. Nos últimos meses, no entanto, o aumento tem sido mais forte por conta das chuvas. Como choveu mais do que o esperado, houve atraso na entrada das máquinas para fazer colheita. Além disso, a quantidade maior de água afetou a produtividade da planta e menos álcool foi produzido no período.
(Por Humberto Medina, Folha de S. Paulo, 11/01/2010)
*Colaboraram SIMONE IGLESIAS, da Sucursal de Brasília, e a Reportagem Local