À primeira vista, a fazenda de Riswick é mais uma moderna instalação agrícola: em meio a grandes extensões de terra cultivada, erguem-se estábulos de construção recente, semelhantes a tantos outros na Europa. Mas Riswick é uma fazenda-modelo experimental da pequena localidade de Kleve, situada 460 quilômetros a sudoeste de Berlim e a poucos quilômetros da fronteira alemã com a Holanda. A Faculdade de Agricultura da Universidade de Bonn está encarregada de seu gerenciamento.
Este ano, Riswick será o primeiro centro alemão de pesquisa sobre as emissões de metano do gado bovino, que constituem uma das fontes do aquecimento global e da mudança climática. O projeto de pesquisa, que começará a funcionar em junho de 2010, tem o objetivo de “mostrar, em condições semelhantes à vida real, como o metabolismo bovino produz metano e outros gases”, disse ao Terramérica o presidente da câmara agrícola do Estado da Renânia do Norte-Westfalia, Johannes Frizen, em cuja jurisdição funcionam tanto a Universidade de Bonn quanto a fazenda.
O metabolismo bovino constitui um processo natural de produção de biogases. Durante a digestão da forragem, que ocorre em condições anaeróbicas, isto é, na ausência de oxigênio, os animais secretam microorganismos que decompõem o alimento. Esta decomposição anaeróbica gera gases, entre eles o metano. Os bovinos arrotam a cada 40 segundos, e podem emitir até 230 litros de metano por dia.
“Do ponto de vista dos gases que provocam o aquecimento da atmosfera, o metano é mais importante do que o dióxido de carbono (CO²)”, disse ao Terramérica o professor de processos e criação de animais, Wolfgang Buescher, da Universidade de Bonn, que dirige o projeto de pesquisa de Riswick. Os cientistas estimam que o metano tem potencial de aquecimento global 23 vezes maior do que o CO². Na Alemanha, segundo dados oficiais, a digestão de aproximadamente quatro milhões de vacas leiteiras gerou, em 2007, cerca de 450 mil toneladas de metano. E o gado bovino alemão emitiu esse ano 2,1% dos gases causadores do efeito estufa deste país.
Na fazenda de Riswick, 144 vacas viverão sob condições rigidamente controladas. “Vamos pesar e analisar exatamente a alimentação do gado, e medir suas emissões mediante fotoanálise”, disse Buescher. As emissões serão canalizadas para três câmaras diferentes, dedicadas, respectivamente, ao metano, amoníaco e dióxido de carbono.
Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), indica que a criação de animais responde por 18% de todas as emissões de gases-estufa geradas por atividades humanas, superando até mesmo as do transporte. Segundo a FAO, estas emissões são a soma dos custos ambientais – que também incluem desmatamento, abuso com fertilizantes e pesticidas químicos, entre outras ações –, nos quais incorre a criação de animais para consumo humano.
O estudo Livestock`s Long Shadow - Environmental Issues and Options (A longa sombra do gado - Problemas ambientais e opções) foi publicado em 2006 e estimava que o setor da indústria pecuária mais do que duplicará sua produção, pois em 1999/2001 gerava 229 milhões de toneladas e em 2050 chegará a 465 milhões de toneladas. Buescher explicou que, em experimentos anteriores, variações na alimentação do gado contribuíram para reduzir substancialmente as emissões de gases. Por exemplo, as vacas que comem forragem em lugar de erva emitem menos metano.
Outras ideias aplicadas sob condições de laboratório são acrescentar óleo de pescado e alho à alimentação do gado. “Estimamos que, com mudanças na alimentação, podemos reduzir as emissões em até 40%”, disse Buescher. De acordo com suas previsões, em Riswick as vacas viverão em condições normais. “Aqui não vamos utilizar máscaras de gases para filtrar os arrotos animais, nem vamos instalar aspiradores nos traseiros das vacas”, brincou.
Uma fazenda experimental semelhante, mas dedicada à observação e reciclagem dos dejetos do metabolismo de porcos, está em construção na Dinamarca. Gottlan Paludan, o arquiteto responsável pela construção da “cidade dos porcos”, disse que a intenção é “analisar as sinergias da criação de animais em grande escala e da produção de tomates, para aproveitar de maneira recíproca os dejetos que cada ciclo produz”.
No lugar onde os porcos são criados, na península de Jutlandia, são filtrados e absorvidos CO², amoníaco e outros gases. Os dejetos defecados pelos porcos serão reutilizados para gerar biogás, e com ele eletricidade, ou reciclados para ganhar água e fertilizantes naturais. Eletricidade, água e fertilizantes serão usados no cultivo de tomates, que será desenvolvido no segundo andar da invernada.
Paludan espera que a invernada da cidade dos porcos não só permita a reciclagem de gases e outros dejetos, como também reduza o mau-cheiro que acompanha as criações tradicionais. “Além disso, esperamos gerar um superávit de eletricidade e calor que possa ser consumido pelas comunidades vizinhas”, acrescentou.
(Por Julio Godoy*, Terramérica / Envolverde, 11/01/2010)
*O autor é correspondente da IPS