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Greenpeace cop/unfccc
2010-01-11 | Tatianaf

A cela número 5 dos "presos do clima", na velha prisão de Vestre Faengsel, em Copenhague, é um quarto estreito de seis ou sete passos de largura. Passos lentos para não chegar muito rápido ao fundo. São os passos que eram dados de um lado para o outro por Juan López de Uralde, diretor-executivo do Greenpeace Espanha, posto em liberdade na última quarta-feira, após 21 dias preso. Crime? Aparecer vestido de etiqueta durante a Cúpula do Clima no jantar de gala que a rainha Margarita II oferecia no Palácio de Christiansborg e mostrar um cartaz com a frase: "Os políticos falam, os líderes atuam".

Essa cela, com um grosso portão metálico, se encontra em uma galeria de quatro pisos na qual, até o começo do ano, quase todos os presos haviam sido detidos em protestos durante a cúpula. Ele está no piso térreo, na fileira de portas do lado direito, ao fundo. Um pouco mais afastada das outras do mesmo piso na qual estiveram presos os outros três ativistas do Greenpeace que deixaram em alerta as forças de segurança dinamarquesas na recepção da rainha Margarita II. À norueguesa Nora Christiansen, que apareceu com um vestido longo vermelho, colocaram na cela 27. Ao suíço Christian Schmutz, que atuou como guarda-costas, na 36. E ao holandês Joris Thijssen, responsável pelo setor de Mudanças Climáticas do Greenpeace Internacional, que foi preso no dia seguinte, na 26.

López de Uralde foi o primeiro surpreendido que, de sua limusine, com um letreiro no parabrisas que o identificava como "Chefe de Estado do Greenpeace em nome da Mãe Terra", passara os controles para o palácio. "Entramos de pura sorte, porque ocorreram muitas casualidades. Nós não tínhamos moto que abrisse o nosso caminho, mas justamente nesse dia todas as motos foram retiradas dos carros oficiais", relata o ecologista espanhol que foi confundido com o presidente da Geórgia. Ele lembra como um pesadelo as horas posteriores à sua detenção no dia 17 de dezembro à noite, até entrar na prisão no final do dia 18.

Primeiro, levaram-nos para as jaulas portáteis montadas expressamente pela polícia dinamarquesa no subúrbio de Valby para os protestos durante a cúpula, batizado como o "Guantánamo do clima", ao qual iam parar os muitos presos de forma preventiva (entre eles 22 espanhóis, segundo a Embaixada da Espanha em Copenhague) e depois a uma delegacia na qual os ecologistas tiveram que passar 20 horas isolados em um quarto com um colchonete no chão, uma luz sempre acesa e uma câmera vigiando-lhes. "Era um canil e depois nos colocaram no buraco. Eu tinha um smoking ainda vestido e, ingenuamente, disse aos policiais que a luz devia estar queimada".

Foi só depois que entraram nas celas de Vestre Faengsel em prisão preventiva, para dar tempo à polícia para investigar seu envolvimento em três acusações: suplantação de personalidade pública, falsificação de documentos e invasão de domicílio. As horas anteriores haviam sido tão duras que López de Uralde pensou que o quarto no qual ele acabava de entrar não podia ser sua cela. Ele tinha diante de si um quarto com um lavabo e um sofá cama na parede esquerda e um frigobar, um armário e uma cômoda com uma pequena TV e um rádio à direita. Além disso, no fundo, podia abrir uma janela com grades que dava para o pátio.

A porta dessa cela estaria na maior parte das horas fechada. Se queria ir ao banheiro, teria que apertar uma campainha e esperar que lhe abrissem. "Na cela, você pensa, vê TV, lê um livro, ouve música, passeia. Você faz tudo isso devagar para que o tempo passe", comenta o diretor do Greenpeace Espanha. "Se você pediu para que te deixem sair para tomar banho, você vai quase como que andando para trás, para ver se você encontra alguma cela aberta, pois, mesmo que estejam sempre fechadas, talvez você tem sorte e vê alguém".

Todas as manhãs, um guarda passava com um carrinho com o café-da-manhã. Sempre a mesma coisa: chá e pão de forma com uma fatia de queijo e, nos domingos, café e um bolo. É o momento em que se pergunta aos presos se vão querer sair para o banho, limpar a sua cela ou lavar roupa suja. Quando López de Uralde pedia para limpar sua "habitação", ele passava o mais lentamente possível a vassoura e o esfregão aproveitando que a sua porta estaria aberta enquanto isso.

O mais duro da prisão é a solidão. Os quatro do Greenpeace não foram presos em regime de isolamento, mas estavam sim sujeitos a um estrito controle de correspondência e visitas, conforme os artigos 771 e 772 da Lei de Ajuizamento Civil e Criminal da Dinamarca. Isso implicava não ter contatos com a sua família ou com o exterior, salvo as reuniões com seus advogados, que se limitavam a comentar o processo judicial. "O fato de não poder falar com a família foi o pior, o fato de não poder explicar aos teus filhos o que aconteceu, mas também o fato de não saber que estava acontecendo", conta o ecologista, pai de dois filhos. "Isso foi o mais difícil, porque você não entende nada, não entende por que você está ali".

Quase tudo o que sabiam do exterior lhes chegava pela televisão ou pelo rádio, mesmo que a maioria era em dinamarquês. A ativista norueguesa Nora Christiansen, casada com o diretor-executivo do Greenpeace Dinamarca, Mads Christiansen, era quem costumava traduzir as notícias sobre o que havia ouvido pela rádio quando podiam se juntar na hora do pátio, das 10h às 11h, ou em turnos de "vida social", das 14h às 16h e das 18h às 20h, nos quais os presos podiam escolher outros dois companheiros para se reunir em uma cela.

Foi assim que, no sexto dia ali, Nora contou ao espanhol que 300 pessoas estavam protestando na Embaixada da Dinamarca em Madri pedindo sua libertação. "Comecei a saber o que estava sendo montado por causa disso e porque, alguns dias depois, um preso perguntou gritando da sua cela para o pátio quem de nós era o das 50 mil assinaturas [as recolhidas pelo Greenpeace na Espanha exigindo o fim da sua detenção]".

Além dos quatro amigos do Greenpeace, Juancho (López de Uralde), Nora, Christian e Joris também fizeram turnos em suas horas de "vida social" com Luca, um ativista italiano da cela 25, acusado de atirar garrafas em um protesto em Christiania. No final do ano, a prisão foi se esvaziando de presos do clima, e Nora se converteu na única mulher da galeria. "Mesmo que tivessem salas para mulheres, ela queria ficar. Acredito que esse foi o único gesto um pouco humana que tiveram conosco: permitir que Nora ficasse", assegura o dirigente ecologista. Mesmo que já antes conviviam com poucos presos comuns, as celas começaram a se encher outra vez com eles de forma massiva com o novo ano. As coisas mudaram, pois foi então que conheceram de verdade um ambiente carcerário.

López de Uralde teve contato com um chileno ao qual ajudava a se entender com os guardas em inglês. "Perguntei-lhe por que estava na prisão, e ele me disse que era por causa de um assunto em uma joalheria, e não voltei a lhe fazer perguntas". Mas principalmente fizeram amizade com Jim, um marroquino-dinamarquês acusado de tráfico de drogas, que foi quem lhes introduziu no submundo da prisão. "Ele nos ajudou muito a entender. Nos ensinou que, na prisão, não se deve ter esperanças, porque logo você se desespera. Que você tem que viver o dia a dia e não pensar que nada vai mudar. E era verdade. Os piores dias foram os do começo, quando tínhamos esperança, como no dia em que os advogados apresentaram o recurso. Se você perde a esperança, fica afundado na miséria".

No terceiro dia na prisão, o dirigente ecologista recebeu pela manhã uma visita inesperada. Era Juan Suñé, encarregado de negócios da Embaixada da Espanha em Copenhague, que, como logo também faria o cônsul da Espanha, Nuño Bordallo, se ocuparam de ver de forma regular o diretor do Greenpeace. Ambos encontraram um López de Uralde bastante animado, mas muito cansado por causa das limitações de contato com o exterior. No total, foram seis as visitas permitidas nas quais falaram de tudo, seis visitas que López de Uralde agradeceu com um forte abraço a Bordallo ao se despedir no aeroporto de Copenhague de volta a Madri. "Essas visitas foram muito importantes para mim", afirma. As gestões da Embaixada também foram chave para que, nos últimos dias, fosse permitido que o ecologista fosse visitado por sua esposa e seu irmão, mesmo que acompanhados por um policial e uma tradutora que lhes interrompia cada vez que falavam do caso.

Essa visita de sua família ocorreu a só 48 horas da visita judicial na qual devia se decidir se os quatro do Greenpeace continuariam na prisão. E, nesse mesmo dia, terça-feira, foi também quando a polícia dinamarquesa lhes interrogou pela primeira vez desde a sua detenção. Os quatro temiam a visita judicial, mas essa não chegou. Exatamente no dia de antes, quarta-feira, ouviram seu advogado dizer por telefone que iam ser liberados. Após 21 dias presos, saíam à rua.

(Por Clemente Álvarez, El País, tradução de Moisés Sbardelotto, IHU Unisinos,  11/01/2010)


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